
A BARCA SE ENCHIA DE ÁGUA... (Mc 4,35-41)
Sobre o Evangelho deste Domingo. (22/06/2024)
OS EVANGELHOS


Quando meus avós maternos moravam em Angra dos Reis, RJ, fizeram um passeio de canoa até a Ilha Grande. Minha mãe contava que o casco do barco tinha gretas e minha avô Xandoca ia retirando a água com uma canequinha. Imagino a tensão...
No Evangelho de hoje, a situação era bem mais séria. A tempestade inesperada assustava mesmo os experientes pescadores do lago. E a presença de Jesus deveria ter bastado para serená-los, se eles o conhecessem de verdade.
Frei Raniero Cantalamessa diz que essa mensagem de confiança continua válida para nossos dias e deve ser a razão de nossa esperança. “A Igreja é sacudida pelo vento da contradição e da provação; as ondas do mar se atiram, por cima das bordas, para dentro da barca (há discussões e contendas também dentro da Igreja), dando a alguns um calafrio de naufrágio iminente. Mas o Mestre diz também a nós: ‘Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?’ Ele está dentro da mesma barca, conduz a barca da Igreja e é levado por ela. E Ele não pode perecer”.
Sem a fé, com base apenas na experiência dos sentidos e na avaliação racional, duvida-se do futuro da Igreja. Frei Cantalamessa – agora cardeal - acha graça: “Quando ouço homens, assim chamados, de cultura, dar como fato consumado o fim próximo da Igreja e a liquidação da fé, muitas vezes me dá vontade de sorrir: há milênios que a mesma profecia vem se repetindo e sendo sistematicamente atualizada. O mérito não é nosso - dos homens que formamos a Igreja -; nós teríamos naufragado o barquinho mil vezes, desajeitados como somos. Mas é exatamente esse um sinal de que há mais outro alguém no timão”.
Frei Cantalamessa não é o único que tem impulsos de riso. Jean Valette chama nossa atenção para o fato de que Jesus dormia sobre um travesseiro, num sono “relativamente confortável”. Este lado irônico contribui para mostrar o abismo entre a força dos inimigos da Igreja e o supremo poder de Cristo Senhor.
“A fé de que Jesus nos fala – comenta Valette – e cuja ausência nos discípulos chega a espantar, é a fé em Deus Pai. É ela que habita em Jesus mesmo em seu sono. É no poder do Pai que Jesus acreditou ao pronunciar a palavra para o mar. Ele não somente dispôs desse poder, mas Ele acreditou nele.”
É tempo de pandemia? É tempo de tempestade? Onde vamos procurar apoio e sustento? Certamente, não em nossa organização hierárquica... não em nossos projetos pastorais... não em nossos contatos políticos... não em nossas elucubrações teológicas. A velhinha que debulha as contas de seu rosário sabe muito bem onde se encontra o seu apoio.
Ainda temos a canequinha da vovó Xandoca?
Orai sem cessar: “Acordo, porque o Senhor me sustenta!” (Sl 3,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Imagem de Capa:
Cristo no Mar da Galiléia / Eugène Delacroix
Data: 1854
Estilo: Romanticism
Género: pintura religiosa
Materiais: oil, canvas
Localização: Museu de Arte Walters
Dimensões: 59,8 x 73,3 cm