A CRUZ
POESIA E FÉCULTURAPR
Das mãos do Senhor erguiam-se labaredas,
dos pés do Senhor erguiam-se labaredas,
dos flancos do Senhor erguiam-se labaredas
de dor.
O corpo divino se estorcia como um tronco verde na queimada.
O incêndio de dor crepitava violento
em toda a carne do Senhor.
E as mãos que tinham abençoado infinitamente
eram agora folhas crestadas,
e os pés que tinham sangrado os caminhos do mundo
eram rebentos retorcidos,
e a cabeça que abrigava os pensamentos eternos
era uma fronde que ia tombar reboando.
O incêndio de dor crepitava violento
na alma e na carne do Senhor.
E as chagas eram brasas vivas,
e as palavras que brotavam trêmulas
dos lábios que haviam pronunciado as verdades divinas
eram outras chamas mais altas e puras
de dor infinita.
O incêndio de dor crepitava violento
e enchia do seu rumor imenso
a
grande
noite
do
mundo...
Tasso Azevedo da Silveira
OSE (Curitiba, 11 de março 1895 — Rio de Janeiro, 1968) foi um escritor e poeta brasileiro. Foi um dos representantes da ala espiritualista do modernismo brasileiro, ao lado de Alceu Amoroso Lima e Cecília Meireles. Ganhou um importante reconhecimento nos círculos literários, sendo considerado por Gerardo Melo Mourão como “talvez o maior poeta cristão das nossas letras”.