A DEMOCRACIA DOS MORTOS (2Ts 2, 1-9)
"Assim, portanto, irmãos, ficai firmes e conservai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta." (2Ts 2, 15)
Há algo que não consigo entender desde a minha juventude. Nunca entendi de onde tiraram a ideia de que a democracia se opõe de alguma forma à tradição. É óbvio que a tradição é somente a democracia que se estende no tempo. É confiar no consenso das vozes comuns da humanidade e não em algum evento isolado ou arbitrário. Aquele que cita algum historiador alemão contra a tradição da Igreja Católica, por exemplo, apela à aristocracia. Busca a superioridade de um especialista contra a terrível autoridade de uma multidão. É simples ver por que uma lenda é tratada, e deve ser tratada, mais respeitosamente do que um livro de história. A lenda é geralmente feita pela maioria da população de uma vila, que é sã. O livro é geralmente escrito pelo único homem da vila que é louco...
[A tradição] significa dar o voto à mais obscura de todas as classes, nossos ancestrais. É a democracia dos mortos. A tradição rejeita a submissão à oligarquia arrogante e mesquinha daqueles que por hora perambulam por aí. Todos os democratas rejeitam que os homens não possam votar por um acidente de nascimento; a tradição rejeita que sejam desqualificados pelo acidente da morte. A democracia diz que não devemos desprezar a opinião de um homem bom, mesmo que seja nosso lacaio; a tradição nos conclama a não negligenciar a opinião de um homem bom, mesmo que seja nosso pai. Eu, ao menos, não posso separar as ideias da democracia e da tradição; parece-me evidente que são a mesma ideia. Teremos os mortos em nossas assembleias.
Excerto do livro "Ortodoxia" de G. K. Chesterton. Ed. Ecclesiae. 3a Edicão.