A EFÍGIE E A INSCRIÇÃO... (Mc 12,13-17)

Sobre o evangelho desta terça-feira (04/06/2024)

OS EVANGELHOS

Antonio Carlos Santini

6/3/20242 min ler

Mais uma vez, Jesus de Nazaré se encontra diante de uma armadilha preparada por seus adversários. A intenção deles é encontrar algum motivo para acusá-lo diante das autoridades religiosas, o sinédrio, ou perante as autoridades romanas.

Maliciosamente, perguntam-lhe se é justo, ou não, pagar o imposto devido ao Imperador romano. Ora, o povo de Israel estava sob dominação estrangeira. Militarmente vencidos, pagavam pesados tributos ao invasor. Toda a vida social e econômica fora profundamente alterada com a presença das legiões romanas. Os colaboracionistas – como os publicanos, que assumiam o detestável mister de cobrar os impostos – eram detestados pelos judeus.

Se Jesus confirmar publicamente o direito dos romanos a receberem o imposto, ficará na contramão dos sentimentos populares e se tornará alvo da antipatia e das recriminações do povo. Se, ao contrário, ele disser que os compatriotas judeus não devem pagar o tributo imposto pelo dominador, assume a postura de um elemento subversivo, a estimular a população à revolta. De um modo ou de outro, Jesus fica mal.

Naturalmente, os circunstantes pensam que o pregador de Nazaré está em um beco sem saída. Inesperadamente, Jesus pede a seus interlocutores que lhe mostrem uma das moedas com que pagavam o imposto. Era uma moeda cunhada pelos romanos e trazia em relevo a silhueta de César. Se recordarmos que a lei mosaica proibia aos judeus a fabricação de imagens de pessoas e animais, sob a acusação de idolatria, a simples posse de uma moeda como aquela podia ser vista como grave violação da Lei, como admissão de um poder que fazia competição ao poder do Senhor Yahweh.

Ora, o homem e mulher foram criados à imagem de Deus. Nas palavras do Gênesis, o Criador neles imprimira a sua “efígie” e sua semelhança. Não havia, pois, como confundir a imagem de César e a imagem de Deus. Daí, para surpresa de todos, a genial resposta de Jesus, que se tornou uma espécie de critério para a sociedade de todos os tempos: dar a César o que é de César (como moedas, impostos, tributos, valores materiais...), mas reservar para Deus aquilo que não pode ser usurpado a seu senhorio, em primeiro lugar o coração do homem, chamado à adoração do verdadeiro Deus. Sem excluir o próprio César... que também “pertence” ao Criador de todos...

Se nosso mundo ainda não encontrou a paz e a harmonia entre as nações, é porque não se cumpre a ordem de Jesus. Se ainda há pessoas que não acharam a paz interior, é porque continuam entregando a César aquilo que deveria ser reservado para Deus... A começar por si mesmas...

Orai sem cessar: “Senhor, são vossas todas as nações!” (Sl 82,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.