
A GESTAÇÃO DE UM FILHO DE DEUS
Carlos Carreto (1910 - 1988)
8/2/2025
Uma coisa é fazer uma estrela, outra coisa é fazer um filho.
Uma coisa é fazer uma flor, outra coisa é fazer um filho.
Uma coisa é fazer uma libélula, outra coisa é fazer um filho.
Primeiro Deus me fez como um fragmento de estrela e me deu a vida; depois ele me desenhou como uma flor e me deu a forma; depois me infundiu a consciência e me fez amor.
Eu creio na evolução da criatividade de Deus e gosto de pensar que Deus se serviu das rochas como material para meu corpo, e do desenho das flores para reunir minhas células nervosas.
Mas quando eu penso em minha consciência, é n’Ele que eu busco um modelo, em sua vida trinitária; ele me fez à sua imagem e semelhança: comunicação, liberdade, vida eterna.
É isto que significa fazer um filho. É que o filho é vida da mesma vida que o Pai; ele é liberdade da mesma liberdade que o Pai; é comunicação para se comunicar com o Pai.
Existem muitos projetos no universo visível e no céu invisível, mas todos eles são a expressão de um único desígnio de Deus: fazer de mim um filho. Um filho que tenha a mesma vida que a dele e seja eterno, a mesma liberdade e seja feliz, a mesma comunicabilidade e, tal como ele, seja Amor.
Naturalmente, o projeto não está pronto, o trabalho está inacabado. Se estivesse acabado, seria o fim do mundo.
O mundo ainda não está pronto porque o trabalho ainda não levado ao seu término, e é por isso que “a criação em espera aspira pela revelação dos filhos de Deus... e geme em trabalho de parto” (Rm 8,19.22), pois não se trata de um trabalho fácil.
A distância que separa do fim é a distância que separa cada um de nós de seu verdadeiro nascimento, isto é, daquele dia em que ele sairá do leito das coisas visíveis para dizer, com toda a consciência, dirigindo-se a seu criador: “Meu Pai”, e entrar em sua casa na qualidade de filho, e não como um quadro decorativo; na qualidade de filho, e não como um vaso de flores; na qualidade de filho, e não como um animal incapaz de conhecer seu pai.
A história do homem sobre a terra não é mais que a longa e dramática história de sua transformação, que é a autêntica gestação de um filho de Deus...
Carlos Carreto foi um escritor italiano, padre católico e membro dos Irmãozinhos do Evangelho.
Excerto traduzido de CARRETO, C. “Mon Père, je m’abandonne à Toi”; Cerf/Nouvelle Cité, Paris/Roma, 1983 – trad. de A. C. Santini.