
A HISTÓRIA DA IRMÃ ROSÁRIO E A ORTODOXIA POSITIVA
Nosso Sexto Fundamento - Ortodoxia Positiva
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COISAS QUE ACONTECEM
A pequena história da irmã Rosário, uma freira que trabalhava na paróquia do Sagrado Menino Jesus na cidade de Ballwin, nos EUA, aconteceu há mais de 40 anos. Em seu livro "Um Povo de Esperança" [4], o Arcebispo Timóteo Dolan, que era o pároco de Ballwin à época, contou que quando a Irmã Rosário estava dando aula para a primeira série do antigo primário, uma aluna perguntou se ela era casada. Quando a Irmã disse que não era, a menina respondeu: "Oh, que bom, você pertence a todos nós", como se dissesse “então você é igual e nós”. Com o tempo, o arcebispo, que incialmente achou a história um tanto engraçada, notou que o simples fato de contá-la começou a funcionar muito bem quando ele queria expor uma das razões positivas para o celibato clerical.
Mas o que essa história tem a ver com Ortodoxia?
Bom, peço-lhes um pouco de paciência para fazer o arremate de uma coisa com outra e, ainda mais importante, como isso pode nos ajudar na evangelização do mundo moderno. Antes de tudo é importante esclarecer esse termo que pode parecer um "palavrão", mas esse "palavrão" é bom. A palavra Ortodoxia pode soar mal para algumas pessoas, inclusive dentro de alguns grupos católicos devido ao emprego equivocado da palavra para designar uma tendencia ao retrocesso. Mas ortodoxia, significa simplesmente, pela sua etimologia grega, ter a fé correta, sendo esta a fé que nos foi revelada por Deus, através de Nosso Senhor Jesus Cristo, e transmitida por seus apóstolos e aqueles que os sucederam.
E o que é Ortodoxia Positiva?
Uma das características marcantes e algo original das encíclicas do Papa Bento XVI, é a maneira como ele apresentou os fundamentos cristãos - a ortodoxia. Por exemplo, em sua encíclica, Spe Salvi [1], Bento XVI aborda a doutrina do Juízo Final, muitas vezes apresentada ao longo de séculos da teologia, da pregação e da arte cristãs como uma ameaça implícita - obedecer à lei de Deus ou enfrentar a condenação eterna [E é isso também]. Mas, em vez disso, Bento XVI apresenta o Juízo Final como uma expressão de esperança – especificamente, a esperança de que a justiça finalmente triunfe em um mundo em que o mal e a corrupção muitas vezes parecem ter a vantagem.
E para descrever aquela aparente mudança de abordagem do Papa Bento XVI, o escritor, editor e jornalista católico, John Allen Jr., que acompanhava o Papa à época, cunhou o termo “Ortodoxia Afirmativa” [3]. Por "ortodoxia afirmativa", ele queria referir-se à defesa firme dos elementos centrais da doutrina católica clássica, ou seja, a defesa da fé correta [da ortodoxia], mas apresentada de uma maneira implacavelmente positiva, em termos do que a doutrina é a favor, e não do que ela é contra. Sem perder esse sentido original, preferimos usar aqui a expressão "Ortodoxia Positiva", pois traduz melhor o sentido que queremos comunicar, em nosso apostolado.
A Ortodoxia Positiva, então, significa expressar os grandes ensinamentos da Igreja de uma forma positiva, em vez de uma forma negativa, sem fazer concessões quanto à sua integridade. Assim sendo, devemos evitar começar nossas conversas com expressões negativas como "Não faça isso" ou "Esse mundo está perdido" ou ainda “você vai arder no inferno”. Deveríamos começar doutro modo: mostrando a beleza, a bondade e a integridade da fé cristã.
O Arremate
E meu exemplo favorito de mudança de abordagem negativa para uma positiva, é a curta história da Irmã Rosário. Há muito mais sentido a ser explorado a partir desta breve história que pode ser trabalhado positivamente, como, por exemplo, o fato de a Irmã Rosário, neste aspecto, já “ser como uma criança”. Ora, também podemos expor o celibato como algo positivo, explicando que a Igreja não está dizendo que o sexo é ruim (você já notou o tamanho das famílias católicas tradicionais?), mas que abraçar o celibato para servir ao Reino de Deus é bom (cf. Mt 19:12). Quando nos casamos dizemos "sim" a um cônjuge e, ao mesmo tempo, dizemos "não" a todos “os outros peixes do mar”. A fidelidade a esse "sim" exige todos os outros "nãos". O celibato, muitas vezes retratado como um "não" à vida conjugal, é um "sim" ao serviço fiel em tempo integral à Igreja. E para aquela pessoa esse “sim” é muito mais precioso. Note que, descrever o celibato como algo positivo, em vez de algo negativo, pode até mesmo nos ajudar a entendê-lo melhor.
Agora, creio que já podemos simplificar o que é Ortodoxia Positiva. Ortodoxia Positiva é Mudar a abordagem do ensino católico, de uma série de proibições negativas para uma série de verdades positivas. E fazendo isso, estaremos modelando Nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele mesmo resumiu a Lei [a qual é cheia de proibições do tipo "não farás", “não cometerás”] em dois mandamentos positivos: Amar a Deus e ao próximo. (cf. Mt 22, 34-40).
Referências:
[3] John Allen on Benedict XVI and ‘Affirmative Orthodoxy’ | Fr. Z's Blog (wdtprs.com)
[4] DOLAN, T. A People of Hope: Archbishop Timothy Dolan in Conversation with John L. Allen Jr. (English Edition) eBook Kindle, 2011.
[5] IRINEU, L. Patrística - Contra as Heresias - Vol. 4. ed. Paulus. eBook Kindle. 2014.
IMAGEM DE CAPA:
Uma Escola Infantil Bretã
Jean-Baptiste Jules Trayer/ França / 1882
68 x 83 cm
Aquarela e Lápis sobre Papel
Atualmente a Obra está Desaparecida


"A fé no Juízo Final é, antes de tudo, esperança – cuja necessidade ficou bem clara nas convulsões dos últimos séculos... Estou convencido de que a questão da justiça constitui o argumento essencial - o argumento mais forte - em favor da fé na vida eterna", disse o papa.
Bento XVI forneceu outra ilustração da sua abordagem em seu discurso anual à Cúria Romana em 2007. Desta vez, o assunto era a evangelização, ou o impulso missionário para fazer convertidos ao catolicismo. Bento XVI insistiu que a Igreja não pode renunciar ao imperativo missionário. No entanto, ele argumentou que o motivo para o fazer não é evitar que as pessoas sejam condenadas, mas sim que somente através do evangelho, proposto com amor, é possível reequilibrar a humanidade já ameaçada pela injustiça.
"É muito importante que as forças da reconciliação, da paz, da justiça e do amor cheguem à humanidade hoje", disse o papa. "É muito importante que essas forças sejam despertadas e reforçadas, no equilíbrio da experiência humana, contra os sentimentos e realidades de violência e injustiça que os ameaçam." [2]
O argumento tradicional para o trabalho evangélico missionário tem sido apenas a precariedade da salvação individual sem o batismo e os sacramentos - em outras palavras, uma preocupação negativa de que as almas possam ser perdidas, o que é absolutamente verdadeiro. Mas, o ponto de partida, a motivação inicial de Bento XVI foi diferente. O motivo da missão, sugeriu ele no discurso, é antes e também a convicção positiva de que os grandes sonhos humanos de justiça e paz devem ter Cristo como fundamento, ou então permanecerão promessas vazias.
Para colocar a questão de outra forma, Bento XVI mudou sutilmente, a motivação da evangelização de um argumento individualista NEGATIVO, para o próprio bem-estar coletivo da humanidade, POSITIVO.
Começar com o “Sim!” para a Ortodoxia, nos ajuda a dizer “Não” para o pecado
Outro benefício missionário da Ortodoxia Positiva é que quando mostramos às pessoas em favor do que somos, fica mais fácil, compreensível e amigável dizer-lhes depois contra que nos posicionamos. Vamos dar um exemplo:
“Somos a favor da vida, pois Deus é a própria fonte de vida, a qual nos foi dada por sua bondade. Quando geramos um filho, sabemos que estamos participando da bondade de Deus e nos tornando semelhantes a Ele”.
“Portanto somos contra o Aborto”
Note que ao dizermos primeiro em favor do que somos, também estamos, de certa forma, mostrando o bem que queremos para nosso interlocutor. Nessa posição, podemos então dizer que somos contra uma determinada coisa, porque acreditamos que essa coisa é um "não" ao "sim" do Evangelho. Estamos, de fato, dizendo "não" a um "não" ao Evangelho. Um "não" a um "não" passa a ser um "sim". Desta forma, o "sim" da ortodoxia positiva começa e termina no grande "sim" do Evangelho.
Como evangelizadores e professores, podemos apresentar a verdade da Igreja e o modo de vida cristão como um caminho para a verdadeira liberdade, para a paz e a felicidade, sempre nos apoiando no catecismo, nos santos e em gigantes intelectuais católicos,
Finalmente, ao evangelizar por meio de uma ortodoxia positiva, estaremos revelando a mensagem do Evangelho como sendo a verdadeira causa impulsionadora do florescimento humano. Santo Irineu, o grande teólogo do século II, expressou a essência do cristianismo com o adágio expressivo: "A glória de Deus é o homem plenamente vivo..." [5]