
A MAIOR HOMILIA DO PAPA
Rafael Andrade Filho
5/1/2025
O Homem Elefante, filme baseado na história real e trágica de Joseph Merrick, do século XIX, foi a obra-prima do diretor David Lynch. Recebendo oito indicações ao Oscar em 1980, a história conta o resgate de Joseph, que estava gravemente deformado, da brutalidade de um circo que o exibia em um "Show de Horrores". Ele, presumivelmente, sofria da síndrome de Proteus. Quem o resgata é o bondoso Dr. Treves, médico que busca estudar sua doença e ajudar Joseph.
Depois de sofrer anos de negligência e abuso, Joseph agora se encontra vestido, alimentado e alojado em uma confortável suíte privada no Hospital de Londres. E mesmo lutando contra deformidades físicas avassaladoras, traumas emocionais intensos e doenças contínuas, Joseph prova ser uma alma gentil, um cavalheiro sensível e um admirador da beleza. Cada vez mais, à medida que as pessoas começam a conhecer Joseph, sua desfiguração é eclipsada por sua personalidade agradável.
Em uma cena comovente, o Dr. Treves leva Joseph para tomar chá em sua casa. Lá, ele conhece e conversa educadamente com a esposa do médico, a Sra. Treves.
Sra. Treves: É um prazer conhecê-lo, Joseph.
Joseph: É um prazer... [Joseph começa a chorar]
Dr. Treves: O que foi, Joseph? Qual o problema?
Joseph: É que eu não estou acostumado a ser tão bem tratado por uma mulher tão bonita...
À medida que o encontro continua, Joseph vê fotos da família Treves na lareira. Intrigado com essa forma incomum como as pessoas exibem fotos de família, ele pergunta:
Joseph: Gostaria de ver minha mãe?
Dr. Treves: [surpreso] Sua mãe? Sim, por favor. [Joseph tira um pequeno retrato do bolso]
Sra. Treves: Oh, mas ela é... Joseph, ela é linda!
Joseph: Oh sim, ela tinha o rosto de um anjo! [triste] Devo ter sido uma grande decepção para ela.
Sra. Treves: Não, Joseph, não. Nenhum filho tão amoroso quanto você poderia ser uma decepção.
Joseph: Se eu pudesse encontrá-la, para que ela pudesse me ver com amigos tão adoráveis aqui agora, talvez ela pudesse me amar como eu sou. Eu tentei tanto ser bom.
[A Sra. Treves começa a chorar]
Em 2013, com apenas oito meses de papado, o Papa Francisco concluiu sua audiência de quarta-feira e seguiu seu caminho no meio da multidão. Vinício Riva, de 48 anos, estava sozinho em um mar de rostos. Com o rosto e o pescoço deformados, repletos de neurofibromas pediculados e feridas abertas, essa vítima da doença de von Recklinghausen foi uma das primeiras pessoas de quem o papa se fez o próximo. Como Riva lembrou:
"Quando o papa se aproximou de mim, me abraçou forte e me beijou, ele me deu um beijo no rosto. Minha cabeça estava contra seu peito. E seus braços me acolheram, ele me abraçou forte. Forte. Tentei falar. Não consegui."
Foi naquele momento, admitiu o homem chocado, que todas as suas tristezas o deixaram.
"O papa não pensou se me abraçaria ou não. Ele não sabia se eu era contagioso ou não. Mas ele me acariciou mesmo assim. E eu senti seu amor.”
Num mundo onde a educação e a cultura tem ensinado às nossas crianças e adolescente a perderem seus inatos sensos de filhos e filhas insubstituíveis de Deus, quem os consolará? Quem consolará aqueles que, como o homem elefante, se perguntam se são verdadeiramente amados e dignos do Amor?! A resposta deveria ser: "Nós Cristãos Católicos!" Pois somos os portadores da melhor notícia do mundo - a de que somos filhos amados individualmente por Deus!
Sempre me lembrarei do Papa Francisco por suas lindas homilias em que encorajou a Igreja a ser a face misericordiosa de Cristo no mundo. Neste abraço silencioso, porém, ele nos ofereceu a maior de suas homilias.

