
A PARÁBOLA DO ESPINHEIRO (Jz 9, 6-15)
LEITURAS DA LITURGIATEOLOGIAPRJUÍZES
Bispo Robert Barron (1959-)
O espinheiro respondeu-lhes:
"Se deveras me constituís vosso rei,
vinde e repousai à minha sombra...” (Jz 9,15).
Nos é contado que o único sobrevivente do massacre de Abimelec foi Joatão, o filho mais novo de Gideão. Esta figura está no palco bíblico por um tempo muito curto, mas consegue entregar uma das críticas mais memoráveis à tirania na Bíblia, comparável à alarmante descrição do profeta Samuel sobre o mal que os reis fazem.
Subindo ao topo do Monte Garizim, e, assim, simbolicamente se dirigindo a todo Israel, esse único sobrevivente de uma usurpação assassina do poder enuncia a parábola do espinheiro (sarça), que é, aliás, um dos poucos exemplos desse tipo de literatura no Antigo Testamento. Buscando um rei para reinar sobre elas, as árvores perguntam à oliveira, mas a oliveira recusa; então elas perguntam à figueira, e recebem a mesma resposta negativa; depois, procuram a videira, mas a videira também diz não. Finalmente, elas recorrem ao espinheiro, que está mais do que disposto a reinar: "Se de boa fé vocês estão me ungindo rei sobre vocês, então venham e refugiar-se à minha sombra."
A ironia, é claro, é que o espinheiro, crescendo perto do chão, fornece pouca sombra; e enquanto as outras plantas – oliveira, figueira e videira – oferecem algo de real valor, o espinheiro não oferece nada. Pelo contrário, seu rápido crescimento, agressivamente insinuante, compromete as plantas em sua proximidade. Assim acontece, sugere Joatão, com os reis, que tem o impulso de governar como tiranos, que tomam em vez de dar, que não oferecem abrigo e, de fato, se infiltram agressivamente nas vidas daqueles sobre quem reinam. Assim realmente aconteceu com o assassino Abimelec.
O reinado do usurpador é breve, apenas três anos, e chega a um fim abrupto com sua morte "indigna". Estando ao pé de uma torre na cidade de Tebes, buscando queimar a estrutura, Abimelec é atingido na cabeça por uma pedra de moinho deixada cair por uma mulher nas muralhas. Envergonhado de estar morrendo pela mão de uma mulher, o governante pede a um de seus soldados que o atravesse com sua espada para que "as pessoas não digam sobre mim: 'Uma mulher o matou'" (Jz 9:54). É claro que, através do relato bíblico, o mundo inteiro sabe disso – e este, assegura-nos o autor de Juízes, é o pagamento pelo assassinato dos irmãos de Abimelec.
Regenera
Excerto traduzido e adaptado do livro: BARRON, Robert. The Great Story of Israel: Election, Freedom, Holiness. Edição em inglês. Editora: Word on Fire, 2022. p. 150-151
Seleção, adaptação e Tradução: Rafael Andrade Filho
A MORTE DE ABIMELEC
Gustav Doré / 1880
Xilogravura
Na edição de luxo da tradução francesa de 1843 da Bíblia Vulgata, popularmente conhecida como Bíblia de Tours.

