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A TENTAÇÃO DE VOLTAR À ESCRAVIDÃO (Ex 14)

LEITURAS DA LITURGIAÊXODOPRTEOLOGIA

Bispo Robert Barron (1959-)

"Quando Faraó se aproximou, os filhos de Israel levantaram os olhos e eis que os egípcios vinham atrás deles. Tiveram grande medo. E então os filhos de Israel clamaram ao Senhor. Disseram a Moisés: “Não havia talvez sepulturas no Egito, e por isso nos tiraste de lá para morrermos no deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito? Não é isto que te dizíamos no Egito: Deixa-nos, para que sirvamos aos egípcios? Pois, melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto." (Ex 14, 10-12)

Quando o Senhor conduziu as companhias de Israel para fora do Egito, ele as levou não pelo caminho mais direto, mas sim por uma rota indireta ao longo do Mar Vermelho. Pois ele temia que eles pudessem ser tomados pelo desejo de retornar, e isso seria facilitado se eles seguissem o caminho esperado.

Encontramos aqui, pela primeira vez, um tema que ressoará ao longo desta parte do Êxodo: a dificuldade do caminho e a tentação de voltar até mesmo a uma condição de escravidão. Tão doloroso é o processo de conversão que a reversão ao pecado parece preferível em comparação.

De fato, o poder da velha forma de vida recebe uma bela expressão simbólica no Faraó e seu exército, agora despertado à atenção pelo fato gritante do êxodo de seus escravos: "O que fizemos, deixando Israel deixar nosso serviço?" Podemos ouvir isso como a voz do pecado, clamando por aqueles poderes espirituais da mente e da vontade que ele permitiu escapar de seu controle.

Assim, o rei e seu poderoso exército partiram para perseguir o indefeso Israel e encurralaram os ex-escravos errantes à beira do Mar Vermelho, forçando-os a clamar a Moisés: "O que você nos fez, tirando-nos do Egito?.. Pois teria sido melhor para nós servir aos egípcios do que morrer no deserto." Tão arraigados são os caminhos do pecado que abandoná-los aparece para nós, pecadores, como um tipo de morte. Nesta terrível conjuntura, Israel é compelido inteiramente a confiar no poder divino. Nenhuma estratégia deles, nenhum movimento militar ou diplomático, poderia libertá-los de seu vínculo. E assim Moisés, a pedido do Senhor, estende a mão sobre o mar e faz com que as águas se dividam.

De fato, somos ordenados a cooperar com a graça, pois Deus convida positivamente o envolvimento de nossos poderes no processo de salvação, mas a graça sempre tem o primeiro lugar. Assim como um viciado, ao entrar no processo de doze passos, deve entregar sua vida a um poder superior, o pecador, efetivamente viciado em seu próprio ego e apegos, deve deixar ir e permitir que Deus aja.

Mesmo quando os israelitas, pelo poder de Deus, atravessam o mar em terra seca, os egípcios não cedem, mas vêm atrás deles. Alguém pode duvidar da seriedade da Bíblia em relação à teimosia do antigo modo de vida? Ouvimos dizer que as rodas das carruagens dos egípcios ficam entupidas na lama, e quando Moisés estende a mão de volta sobre o mar as águas desabam sobre os soldados do Faraó, destruindo todos. Mesmo em face da oposição divina, o mal aparece; mesmo sabendo que se destruirá no próprio ato de fazer valer suas prerrogativas, ele avança.

Excerto do livro: BARRON, Robert. The Great Story of Israel: Election, Freedom, Holiness. Edição em inglês. Editora: Word on Fire, 2022. p. 49-51

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