
AFLITOS, À TUA PROCURA... (Lc2,41-51)
Sobre o Evangelho deste sábado (08/06/2024)
Esta aflição, só pode imaginá-la quem já teve um filho desaparecido, uma filha sequestrada. Quem passou uma noite de angústia à procura de uma jovem que não chegava... E naquele caso, era o Filho de Deus!
Nas grandes festas, Jerusalém chegava a abrigar 150 mil peregrinos. Alguns estudiosos costumam elevar este número. Um formigueiro humano, em área bem reduzida, onde uma criança facilmente se perderia.
De Nazaré a Jerusalém, por 120 a 140km de estrada montanha acima, a comitiva tinha os homens à sua frente; atrás, as mulheres e as crianças. Jesus chegara à idade de celebrar sua cerimônia de maioridade, o Bar Mitsvah (em hebraico, o “filho do preceito”), quando o adolescente, aos doze ou treze anos, passava a ser responsável por seus próprios atos e assumia o direito de proclamar a Palavra na sinagoga judaica.
Após a semana da Páscoa, regressando a Nazaré, Jesus não estava com as mulheres, e Maria deve ter julgado que, agora “adulto”, estaria com os homens adiante. Não estava. José, por sua vez, deve ter avaliado que, mesmo após o seu Bar Mitshvah, o “garoto” estaria com os coleguinhas lá entre as mulheres. Não estava...
Após um dia de caminho, quando os casais se reuniram para a sopa, deram pela falta do Menino. Ah! A angústia de refazer o caminho e buscar em vão pelo filho perdido, junto a parentes e conhecidos, durante três dias, para, enfim, encontrá-lo no Templo, entre os doutores da Lei, que se espantavam da incomum sabedoria de Jesus!
E a queixa materna: “Meu filho, que nos fizeste?! Teu pai e eu, ansiosos, à tua procura...” E a resposta inesperada: “Não sabiam que eu devo cuidar da Casa de meu Pai?” Afinal, quantos pais tinha esse Menino? Dois, parece. Um pai (com minúscula) legal, nutrício, putativo: José. E um Pai (com maiúscula) divino, eterno, genitor. E este Pai tem a precedência. Dele provém e para Ele voltará, tão logo tenha cumprido a sua missão terrena.
Também nossos filhos não nos pertencem. Pertencem a Deus. Pertencem à missão que Deus traçou para eles. Teremos, talvez, noites de angústia quando se perderem por seus caminhos. Mas não podemos retê-los, quando chegar sua hora de partir, palmilhar sua própria estrada, carregar sua cruz...
Na memória litúrgica do Imaculado Coração de Maria, não creio exagerar que Maria, mãe da Igreja, também se angustie ao ver-nos como filhos que se extraviam pelos atalhos do mundo. E certamente sairá à nossa procura para nos encaminhar de novo ao lar.
Nós também somos filhos. Deus está todo o tempo à nossa procura. Quando permitiremos que ele nos encontre?
Orai sem cessar: “Senhor, como são amáveis as vossas moradas!” (Sl 84,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.