O QUE É O PERDÃO?
ARTIGOSORAÇÃO E SANTIFICAÇÃOPRMT 18MT 6
Rafael Andrade Filho (1978-)
9/24/2025
Se você acha que Deus tem reações sentimentais humanas (antropopatia), como a raiva e o arrependimento, pode pensar que o perdão é também um sentimento, como se, ao nos perdoar, Deus estivesse nos dizendo: “Está bem! Eu te perdoo, minha raiva já passou. Desta vez deixo passar, mas não vá tornar noutra, hein!”. Daí surge o erro clássico de supor que, para perdoar alguém que nos “ofendeu”, é preciso primeiro sentir o perdão — como se um sentimento invadisse o coração e então nos capacitaria a perdoar o outro. Mas o perdão não é um sentimento, nem para Deus nem para nós.
Vamos dividir nossa reflexão em duas partes complementares: o perdão de Deus e o nosso perdão.
O Perdão de Deus
O perdão de Deus é um dom. Perdoar significa "doar completamente" e, portanto, há algo que é doado, que é transferido para nós e que nos impulsiona e nos move adiante. Quando Deus nos perdoa, Ele não está mudando de ideia, nem mudando a si mesmo - Ele está nos mudando! Ele está preenchendo em nós algo que estava escuro e apagado pelo nosso pecado.
Doar-nos este dom — perdoar — é uma decisão de Deus. Nos Evangelhos, quando perdoa os pecados, Jesus logo dá uma razão, direta ou implícita, para sua decisão: a fé do beneficiário ou do intercessor (paralítico, centurião, ladrão na cruz, mulher que ungiu, filha de Jairo); a sua autoridade para perdoar (paralítico; ensino em Marcos/Mateus); o arrependimento visível e o amor demonstrado (mulher do alabastro); compaixão e a intenção de restaurar, não apenas de condenar (mulher adúltera e outros episódios).
Mas há uma condição para que isso ocorra: o perdão recebido requer que perdoemos e inclui a imitação do que Deus fez por nós e a resposta à graça recebida, como está claro em Mateus 18:21–35 (parábola do servo incompassivo). E fica mais evidente em Mateus: “Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos” (Mt 6,14–15). E ainda mais evidente quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes devemos perdoar nossos próximos. Jesus responde: "Não sete vezes. mas setenta vezes sete", em outras palavras, "sem fim", constantemente, sem limites.
E por que há esta condição de perdoar para ser perdoado'? Primeiramente, porque o bem do perdão serve não apenas ao outro, mas também ao bem de quem perdoa. Como observa Christopher Peterson, "O perdão desfaz nosso próprio ódio e nos liberta do passado conturbado". Em segundo lugar, porque é perdoando que podemos crescer na santidade. Não há nenhum santo cuja característica marcante não fosse o perdão aos seus algozes. Quando perdoamos o próximo e, arrependidos e com fé, voltamo‑nos para o Pai, que nos perdoa e enche de graça aquele espaço em nós, onde antes havia o ódio. Essa graça nos transforma e, por ela, passamos a perdoar novamente e assim nos tornamos parecidos com Deus. Por isso perdoar o próximo é condição "sine qua non", essencial, para que avancemos na santidade e participemos da vida de Deus, do seu Reino... para que sejamos perdoados.
O Nosso Perdão
Perdoar é também, para nós, uma decisão, uma escolha feita com a inteligência e movida pela vontade, não é um sentimento. É claro que nem sempre é fácil, principalmente quando se trata de perdoar alguém que nos feriu profundamente ou que se comporta como nossos inimigos. Mas perdoar não é, obrigatoriamente, esquecer, renunciar à justiça, reconciliar-se ou mesmo se sentir melhor com isso. Perdoar é, primeiramente abrir mão da vingança. Perdoar é abrir mão dos papéis de juiz, júri e executor do transgressor. Perdoar alguém é deixar que Deus decida por nós. Em segundo lugar, perdoar é desejar que o outro se converta. Em vez de vingar pessoalmente o mal feito, o perdão almeja e permite que o transgressor veja — esperançosamente - o mal que foi feito e possa escolher se arrepender e se converter, o que transforma nosso perdão também em Dom.
O perdão, portanto, nasce de uma decisão, mas é somente sob a graça de Deus que efetivamente conseguimos coloca-lo em prática. Devemos, portanto, mediante nossa decisão de perdoar, pedir em oração a graça de poder perdoar.
Como ser melhor um melhor "Perdoador"
Talvez possamos oferecer algumas práticas que nos ajudam a perdoar. Em primeiro Lugar, mantenha seus próprios pecados diante dos seus olhos. Segundo, vá ao confessionário mais regularmente. Terceiro, perdoe rapidamente. Não dê tempo para o seu rancor se sedimentar profundamente em sua psique, busque perdoar o mais rápido possível. E finalmente, perdoe concretamente, comunicando sua decisão a Jesus, em oração, e peça-lhe que Ele lhe ajuda, que lhe dê a graça de perdoar e perdoe através de um ato concreto ou sinal concreto: fale com aquela pessoa, mande um e‑mail, pegue o telefone ou faça-se presente... e se não puder/conseguir ter contato com a pessoa, reze por ela: peça a Deus que a leve para o céu.
Se você acha que sua vida espiritual está estagnada, que não avança nas virtudes, experimente perdoar: tome a decisão de perdoar — um ato da inteligência e da vontade. Razões para perdoar há muitas, mas a principal é “serdes perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5:48). Você verá como Deus irá te “refazer”, te recriar, mudando você: um milagre em sua vida. Venha e Vede!
