
COMOVEU-SE ATÉ AS ENTRANHAS
(Lc 15,1-3.11-32)
OS EVANGELHOSLC 15
Antonio Carlos Santini
3/30/2025
Sim, quando o filho perdido apontou na estrada, de volta ao lar, o Pai sentiu suas entranhas se comoverem. Pena que nossas traduções falem apenas de “compaixão”, que soa como algo aéreo e abstrato.
Ora, foi uma reação profunda, psicossomática, uma “dor na barriga” que o Pai experimentou diante da condição do filho. No grego original de São Lucas, está o verbo “esplagnísthe” [εσπλαγχνίσθη]. Da mesma raiz grega, temos em português o adjetivo “esplênico”, que se refere ao baço, um órgão de nosso abdome. Não é no coração! É no ventre que dói a emoção de ver o filho de volta...
Estamos diante de uma página única da literatura universal! O comovente drama do “filho pródigo”, como ela é conhecida, ou do “filho recuperado”, pois este é o seu desfecho. Ou ainda melhor, o drama do “amor do Pai”, que se projeta além de toda expectativa humana, inclusive a do próprio filho, que regressa disposto a ser rebaixado à mera condição de servo da casa.
Nosso olhar se perde nas aparências. Ficamos presos à casca das coisas: um jovem perdulário que “queima” a herança do pai, exigida com ele ainda vivo. Uma vida desregrada longe de suas raízes familiares. A degradação social. A convivência com os porcos. O desprezo dos estrangeiros. A conversão-pela-metade, pois não leva em conta o amor paterno. E, acorrentados a aspectos legais e morais, aqui nos detemos...
Assim, não vemos o essencial: a estatura filial, a natureza inalienável do jovem fujão permanece intacta, apesar dos erros e dos pecados. Uma vez filho, sempre filho! E ser filho significa ser objeto de um amor sem medidas, amor anterior, amor incondicional. Nada pode corroer sua filiação, nem mesmo um pedido de demissão.
Estamos diante do grande mistério que se manifesta em nossa relação com Deus (o Pai da parábola): a GRAÇA! Não é absolutamente por mérito que somos filhos. É por Graça. É por um amor fontal, amor que brota de uma fonte infinita, inesgotável. Somos salvos porque somos amados...
O filho mais velho – tão honesto! Tão odiento! – não compreende estas coisas. Logo ele, que nunca ousou pedir um cabrito ao pai! Ele também não sabia que era amado. Que “tudo o que é meu é teu” (v. 31)...
E o filho mais novo – apesar da distância mantida pelo irmão mais velho, honesto e triste - continua com os mesmos direitos de sempre. Isto inclui a túnica de festa, as sandálias e o anel. E, claro, inclui os beijos do Pai...
Orai sem cessar: “Águas torrenciais não puderam extinguir o amor...” (Ct 8,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
Leia aqui o Evangelho...
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas cap. 15, (1-3. 11-32)
1Todos os publicanos e pecadores estavam se aproximando para ouvi-lo. 2Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: “Esse homem recebe os pecadores e come com eles!” 3Contou-lhes, então, esta parábola:
O filho perdido e o filho fiel: o “filho pródigo —11Disse ainda: “Um homem tinha dois filhos. 12O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. 14E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. 15Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. 16Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! 18Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. 20Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21Ofilho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’.22Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, 24pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. 25Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. 26Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. 27Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. 28Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. 29Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. 30Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ 31Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’”
Fonte: Bíblia de Jerusalém.
A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
No. III: O Retorno. Série A Parábola do Filho Pródigo de
James Tissot (francês, Nantes 1836–1902)
Data: 1882
Gravura em papel vergê
Museu Metropolitano de Arte, Nova York, EUA

