
CRISTO FEZ-SE MALDIÇÃO POR NÓS (Gl 3, 13)
Sobre a Liturgia desta sexta-feira (11/10/2024)
PROS EVANGELHOSGL 3
"Cristo resgatou-nos da maldição da Lei,
fazendo-se maldição por nós, pois está escrito:
'Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro!" (Gl 3, 13)
"No sonho humano de um mundo perfeito, a santidade é sempre visualizada como intocável pelo pecado e pelo mal, como algo não misturado com este último; sempre permanece, de uma forma ou de outra, uma tendência a pensar em termos de preto e branco, uma tendência a cortar e rejeitar impiedosamente a forma atual do negativo... Na crítica contemporânea da sociedade e nas ações em que ela se manifesta, esse lado implacável, sempre presente nos ideais humanos, é mais uma vez evidente demais. É por isso que o aspecto da santidade de Cristo, que perturbou seus contemporâneos, foi a completa ausência da nota condenatória - o fogo não caiu sobre os indignos, nem os zelosos tiveram permissão para arrancar as ervas daninhas que viram crescer exuberantemente por todos os lados. Pelo contrário, esta santidade exprimiu-se precisamente como uma mistura com os pecadores, os quais Jesus atraiu para perto de si; como se misturando ao ponto em que ele próprio foi feito "pecado" (2Co 5, 21) e suportou a maldição da lei, na sua execução como um criminoso - comunhão completa com o destino dos perdidos. Ele atraiu o pecado para si mesmo, fez dele o seu destino, e assim revelou o que a verdade "Santidade" é: não separação, mas união; não julgamento, mas amor redentor. A Igreja não é, simplesmente, a continuação do mergulho deliberado de Deus na miséria humana; não é ela, simplesmente, a continuação do hábito de Jesus de se sentar à mesa com os pecadores, de se misturar com a miséria do pecado a ponto de realmente parecer afundar sob seu peso? Não se revela, porventura, na santidade profana da Igreja, em oposição à expectativa de pureza do homem, a verdadeira santidade de Deus, que é o amor, o amor que não se distancia numa espécie de pureza aristocrática e intocável, mas misturado com a sujeira do mundo, para assim superá-lo? Pode, portanto, a santidade da Igreja ser outra coisa senão o apoio mútuo que vem, é claro, do fato de que todos nós somos sustentados por Cristo?"
Excerto traduzido de RATZINGER, J. Introduction to Christianity. San Francisco: Ignatius Press, 1987. p. 234-236.