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DEPOIS, VEM... (Mt 5, 20-26)

OS EVANGELHOSMT 5

Antonio Carlos Santini

6/12/2025

Sim, depois. Não antes. Não enquanto alimentas ódio e ressentimento no coração. O rancor contaminaria a oferta que levas até o altar. Se queres ver aceita a tua oferta, procura primeiro o teu irmão, reconcilia-te e depois – só depois – estarás em condição de prestar culto ao Senhor.

Aqui, estamos diante de algo novo em relação à Primeira Aliança. Nesta, a reconciliação do povo com seu Deus se fazia por meio de vítimas e oferendas levadas ao altar. O sangue das vítimas era aspergido sobre a assembleia em ritual de purificação. Parte da carne – a melhor e mais gorda! – era queimada para Deus em holocausto. Outra parte era oferecida ao povo em refeição. Comer parte da vítima consagrada ao Senhor significava estar em comunhão com ele.

Agora, em clima de Nova Aliança, vem Jesus e chama nossa atenção para um aspecto ligado à coerência da fé e do culto divino. Podemos assim resumir a questão: como pretendes estar em comunhão com Deus enquanto estás em conflito com teu irmão, que pretende, igualmente, estar em comunhão com o mesmo Deus? Deus estaria assim fraturado e dividido? Teremos quistos de ódio no coração de Deus?

Ou ainda: se pretendes ser alvo do amor de Deus enquanto alimentas alguma modalidade de ódio (silêncios, reservas, antipatias, formação de partidos, rancores e ressentimentos...) não é uma incoerência? Ou esqueces que o mesmo Deus ama também ao irmão a quem aborreces?

Com toda a clareza, o ensinamento de Jesus nos vem despertar para a exigência de perdão, sem o qual nossa oferenda é apenas um gesto ritual vazio de conteúdo existencial, já que nossa vida desmente o rito que celebramos. Como diria o poeta, há distância entre intenção e gesto... E Deus, que lê os corações, certamente não acolherá a oferenda posta sobre a pedra do altar.

Sim, temos vítimas melhores que os bois e novilhos da Primeira Aliança. Não seria o caso de sacrificar a Deus o nosso orgulho? Os repentes de soberba? A ilusão que fazemos sobre nossa própria imagem? A avaliação inflacionada das ofensas que julgamos ter recebido de nosso irmão? Estas vítimas, com certeza o Senhor há de acolher com alegria, com muito mais prazer do que acolheria o sangue dos outros...

Não que o amor ao próximo fique acima do amor a Deus. Claro que não. Mas a falta de um desses amores viria a desmentir a existência do outro. Afinal, filiação e fraternidade se abraçam...

Orai sem cessar: “Vai, eu te envio a teus irmãos!” (Gn 37,13)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

Leitura do Evangelho de São Mateus, Cap. 5, 20-26

A nova justiça é superior à antiga —20 Com efeito, eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus. 21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; aquele que matar terá de responder no tribunal. 22 Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal; aquele que chamar ao seu irmão ‘Cretino!’ estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; aquele que lhe chamar ‘Louco’ terá de responder na geena de fogo. 23 Portanto, se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e DEPOIS VEM apresentar a tua oferta. 25 Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão.

Texto da Bíblia de Jerusalém.

IMAGEM DE CAPA:

RECONCILAÇÃO

Escultura em Bronze

JOSEFINA VASCONCELOS / 1955

Catedral de São Miguel, Reino Unido

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