
DEU-LHES O NOME DE APÓSTOLOS (Lc 6,12-19)
Sobre o Evangelho desta Terça-feira (10/09/2024)
Jesus passara a noite inteira em oração. Leia-se: um encontro íntimo entre o Filho e o Pai. Aliás, oração é exatamente isto: conversa filial, escuta paternal.
Quando amanhece o dia, depois de ter ouvido o Pai, o Filho pode separar Doze da multidão que o seguia, com a missão específica de serem “enviados”. A palavra apóstolo vem do grego, onde o verbo “apostéllo” significa “enviar”. Nos Evangelhos, a primeira vez que esta palavra aparece é em relação ao próprio Jesus, o “enviado” do Pai (cf. Lc 4,18).
Fica bem evidente, nesta escolha, que os apóstolos serão extensões da missão do próprio Jesus: “Como o Pai me enviou, assim também eu envio a vós”. (Jo 20,21b) E esta frase foi pronunciada pelo Senhor logo após ter soprado sobre eles, dizendo: “Recebei o Espírito Santo!”
Assim, os apóstolos sabem que não são donos da missão. Eles saem sem nenhum projeto pessoal, nenhuma outra intenção diferente dos desígnios do Pai, manifestados pelo Filho. E mais: sabem que é o dom do Espírito que lhes permitirá cumprir o tríplice imperativo: ide... ensinai... batizai... (cf. Mt 28,19)
Não se pode vir a ser um apóstolo sem um chamado expresso de Deus, comenta Helmut Gollwitzer. “O apostolado é uma criação de Deus. Além disso, nota-se que o número doze é decisivo, e pensaremos nas doze tribos de Israel. Aquele que via Jesus em companhia dos Doze via assim representada, de modo visível, a pretensão de Jesus de ser o Messias de Israel”.
O apóstolo é enviado a pregar, anunciar e ensinar: ele é portador da Boa Nova. Testemunhas da ressurreição do Senhor, eles sabem em quem depositaram a sua confiança (cf. 2Tm 1,12). “Jesus não se contenta em reunir à sua volta um grupo de fiéis zelosos, sem os dotar, ao mesmo tempo, de vínculos sólidos. Aqui está a IGREJA, o grupo que assume forma, ordena-se, liga-se a um ministério determinado e a uma autoridade concreta – autoridade única, fundamental, intransmissível, conferida aos doze apóstolos chamados nominalmente.”
Há teólogos afirmando que Jesus nunca pensou em uma “igreja”. Esta seria uma invenção dos homens. Não é o que vemos nos Evangelhos, desde a vocação dos Doze até, especialmente, na vinda do Espírito Santo e no testemunho dos apóstolos após a ressurreição do Senhor. “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16) – decreta o Senhor. Desde então, será impensável separar o Corpo de seus membros, separar Jesus de seus enviados.
Orai sem cessar: “E disso todos nós somos testemunhas!” (At 2,32)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.


IMAGEM DE CAPA:
A Aparição de Cristo aos Discípulos
Duccio di Buoninsegna / Itália /1308 - 1311
Óleo sobre Madeira
Retábulo da Catedral de Siena, Siena, Itália.