DO RITUAL AO ENCONTRO (Mc 7, 1-23)
Sobre a Liturgia deste Domingo (01/09/2024)
OS EVANGELHOSMC 7PRTEOLOGIA
"Jesus respondeu:
Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito:
'Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim.
De nada adianta o culto que me prestam,
pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos' " (Mc 7, 6-7)
Na ordenação do culto de todas as religiões, os regulamentos de purificação desempenham um papel importante: eles dão aos homens um senso da santidade de Deus, assim como da própria escuridão dos homens, da qual eles devem ser libertados, se quiserem ser capazes de se aproximar de Deus. Na época de Jesus, esse sistema de pureza de culto dominava toda a vida no judaísmo observante.
No capítulo 7 do Evangelho de Marcos, encontramos o desafio fundamental de Jesus a esse conceito de pureza de culto, obtido por meio de ações rituais... vemos a transformação radical que Jesus trouxe ao conceito de pureza diante de Deus: não são as ações rituais que nos tornam puros. Pureza e impureza surgem dentro do coração dos homens e dependem da condição de seu coração.
No entanto, uma questão se apresenta imediatamente: Como é que o coração se torna puro? Quem são os puros de coração? Aqueles que podem ver Deus (Mt 5, 8)?
A exegese liberal afirmou que Jesus substituiu o conceito ritual de pureza por um conceito moral: no lugar do culto e tudo o que o acompanhava, temos a moralidade. Essa visão considera que o cristianismo se trata, essencialmente, de moralidade; uma espécie de "rearmamento" moral. Mas isso não faz justiça à dimensão radicalmente nova do Novo Testamento...
No lugar da pureza ritual, o que temos agora não é apenas moralidade, mas o dom do encontro com Deus, em Jesus Cristo. É o Deus encarnado que nos torna verdadeiramente puros; e é Ele quem atrai a criação para a unidade com Deus.
Excerto Traduzido de "Jesus of Nazareth: Holy Week" [Jesus de Nazaré: Semana Santa], de Joseph Ratzinger.
Traduzido por Rafael Andrade Filho