É A MESMA IGREJA (Gl 2, 1-14)

"Disseram-me que um padre jovem, inteligente e cheio de boas qualidades deixou a igreja e apostatou, declarando que estava escandalizado com "certas atitudes por parte da hierarquia". Não estou interessado em quais eram essas atitudes. Estou disposto a admitir como hipótese, de olhos fechados, que essas atitudes foram de fato lamentáveis. Estou até disposto a imaginar outras piores. Mas qual era a fé desse jovem sacerdote então, antes do desastre acontecer? Qual era a sua ideia da Igreja? Que consciência ele tinha da vida que recebeu dela e que estima ele tinha por ela? E ele sabia tão pouco de sua história? Não posso me surpreender que sua experiência tenha sido breve; ele nunca tinha lido em seu breviário a homilia em que São Gregório explica que você nunca se deve esperar encontrar um domínio sem escândalos antes da vinda do Reino? Por mais jovem que ainda seja, não poderia ele meditar sobre os homens que compartilham a condição humana? Ou de que natureza é a lógica, cujo curso ele seguiu?

Mesmo que Paulo, na época do conflito em Antioquia, tivesse tido 20 vezes mais motivos para se queixar do que São Pedro, mesmo que ele tivesse considerado, com ou sem razão, que a "atitude" adotada pelos pilares da Igreja era vinte vezes mais escandalosa, pode-se imaginar que sua fé em Cristo teria sido minimamente abalada? Ou que esse escândalo teria sido capaz de aliená-lo, ainda que ligeiramente, da única Igreja de Cristo? Nossa fé é a mesma hoje - as fundações são as mesmas - e foi acesa no mesmo coração, o mesmo Espírito continua a infundi-la em nossos corações - e é sempre a mesma igreja que nos decepciona e nos irrita, que nos torna sempre impacientes e desencorajados por todos aqueles elementos que nela estão relacionados com nossa própria miséria, mas que ao mesmo tempo persegue sua missão insubstituível entre nós, que não cessa nem por um só dia de nos dar Jesus Cristo, em quem o Pai 'nos livrou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino de seu Filho amado' [Col 1, 13]."

Excerto Traduzido de LUBAC, H. Paradoxes of Faith. San Francisco: Ignatius Press, 1987. p. 234-236.