a glass of red wine

E O ENTREGOU À SUA MÃE... (Lc 7,11-17)

Sobre o Evangelho desta terça-feira (17/09/2024)

Antonio Carlos Santini

9/17/20242 min ler

Nada mais pungente que a cena deste Evangelho: a mãe que acompanha o filho morto ao lugar de seu último descanso. E era um filho único...

O filho já está morto. Dir-se-ia que já não há mais nada a fazer por ele. Mas a mãe discorda. Ela ainda pode cuidar para que ele tenha um enterro digno, em um túmulo decente. Afinal, os humanos são o único animal que enterra seus mortos, o que acena para alguma crença na vida após a morte.

Jesus entrava na cidade quando o cortejo fúnebre saía. E ali se encontram - nesse limiar entre o lugar dos vivos e o lugar dos mortos – aquele que traz o sopro da vida e um defunto que já deu o último suspiro. A visão da mãe, a percepção de sua desolação, mexem com as entranhas de misericórdia do Filho de Deus. Ele detém o cortejo e toca o caixão. Diz uma frase curta: - “Jovem, eu te digo: levanta-te!” E este se ergue e começa a falar.

A frase de Jesus inclui um EU e um TU. Ela faz contato entre os dois polos. E o verbo empregado – levanta-te (em grego, egerthéti) – é um dos verbos utilizados no Novo Testamento para a ressurreição do próprio Jesus. Com o jovem reanimado, Jesus o entrega de volta à sua mãe. Para o monge André Louf, a mulher deste Evangelho representa a Igreja que, como mãe, apresenta seus filhos fracos, enfermos e mortos ao Cristo. E como Cristo ama a Igreja, entregou-se por ela a fim de santificá-la (cf. Ef 5,25-26), ele não deixa de ter piedade dela.

E diz mais: “Esta Igreja mãe é acima de tudo a comunidade eclesial à qual pertencemos. O amor de nossos irmãos nos envolve, nos cerca e suporta nossas fraquezas como também nós, por nossa vez, procuramos suportar as deles. Através de todas as nossas relações de irmãos, é o amor maternal da Igreja que se manifesta para cada um de nós: ‘Carregai os fardos uns dos outros e assim realizai a lei de Cristo’”. (Lc 16,6)

O exemplo da viúva de Naim nos ensina a participar do sofrimento e somar nossas lágrimas ao pranto dos outros. Na Igreja – diz A. Louf – precisamos ser ao mesmo tempo mãe e filho, partilhar material e fraternalmente todo sofrimento e toda morte. É a maneira de ir ao encontro de Jesus, na certeza de que ele será novamente vencedor e ressuscitará os nossos mortos.

O irmão que erra, que se desvia, que é execrado pela opinião pública, deve ser lembrado ainda como um de nossos mortos. Um daqueles que Cristo quer reanimar e devolver à vida.

Orai sem cessar: “Senhor, tu me darás a vida novamente!” (Sl 71,20)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança

IMAGEM DE CAPA:

Jesus Ressuscita o Filho da Viúva de Nain

Yohannes Zick / Alemanha / 1752

Óleo sobre Tela

Museu de Arte de Harvard, Cambridge, EUA