É PARA VOSSA EDUCAÇÃO QUE SOFREIS (Hb 12, 6-7)
LEITURAS DA LITURGIAPRHB 12
Pe. Jean Pierre de Caussade (1675-1751)
"pois o Senhor corrige a quem ele ama
e castiga a quem aceita como filho". É para a vossa educação que sofreis,
e é como filhos que Deus vos trata.
Pois qual é o filho a quem o pai não corrige?" (Hb 12, 6-7)
É verdade que uma tela, que simples e cegamente se entrega ao trabalho do pincel, só sente um movimento seu a cada momento. Cada golpe do martelo no cinzel só pode produzir uma marca cruel de cada vez, e a pedra atingida por golpes repetidos não pode conhecer nem ver a forma produzida por eles. Ela apenas sente que está sendo diminuída, limada, cortada e alterada pelo cinzel. E uma pedra que está destinada a se tornar um crucifixo ou uma estátua sem saber, se for perguntada: "O que está acontecendo com você?" responderia, se pudesse falar: "Não me pergunte, eu só sei uma coisa, e isto é, permanecer imóvel nas mãos de meu mestre, amá-lo e suportar tudo o que ele me infligir. Isto porque o fim para o qual estou destinada, cabe a ele entender como deve ser realizado; sou tão ignorante do que ele está fazendo quanto do que estou destinada a ser; tudo o que sei é que seu trabalho é o melhor e o mais perfeito que poderia ser, e recebo cada golpe do cinzel como a coisa mais excelente que poderia me acontecer, embora, para dizer a verdade, cada golpe, em minha opinião, causa-me a ideia de ruína, destruição e desfiguração. Mas isso não é da minha conta; contente com o momento presente, não penso em nada além do meu dever, e suporto o trabalho desse mestre inteligente sem saber ou me ocupar com isso.”
Sim! Dê a Deus o que lhe pertence e permaneça amorosamente passivo em suas mãos. Tenha certeza de que o que acontece externamente ou internamente é melhor para você. Permita que Deus aja e abandone-se a Ele. Deixe o cinzel realizar seu trabalho... Deixe o pincel do artista cobrir a tela com muitos tons que só têm a aparência de manchas. Corresponda a todas essas operações divinas com uma submissão simples e constante, um esquecimento de si mesmo e uma aplicação assídua ao dever. Continue assim em seu próprio ritmo sem estudar o caminho, os meandros e os arredores, os nomes ou particularidades dos lugares; continue seguindo cegamente este caminho, e ser-lhe-á mostrado o que deve fazer. Busque somente o reino de Deus e Sua justiça por amor e obediência, e todo o resto lhe será acrescentado.
Encontramos muitas almas que estão angustiadas consigo mesmas e perguntamos ansiosamente: "Quem nos dirigirá para que nos tornemos santos e alcancemos a perfeição?" Deixe que elas procurem nos livros a descrição e as características desta maravilhosa obra, a sua natureza e suas qualidades; mas quanto a você, permaneça pacificamente unido a Deus pelo amor e siga cegamente o caminho claro e reto do dever. Os anjos estão ao seu lado durante este período de escuridão e eles o sustentarão. Se Deus requer mais de você, Ele o fará saber por Suas inspirações.
Excerto traduzido de:
CAUSSADE, Jean-Pierre De. Abandonment to Divine Providence: With Letters of Father de Caussade on the Practice of Self-Abandonment. First edition. Ignatius Press, 2011. p. 38-40.
Seleção e tradução: Rafael Andrade Filho.