É POSSÍVEL USAR A RAZÃO PARA CONHECER DEUS?
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primeira pergunta que quero considerar neste primeiro artigo de nosso curso é: É razoável acreditar que Deus existe? Embora algumas pessoas pensem que fé e razão são opostas uma à outra, a fé e a razão podem trabalhar em harmonia. Vejamos, por exemplo, o Argumento Cosmológico de Kalam desenvolvido nas últimas décadas pelo Dr. William Lane Craig, teólogo e filósofo norte-americano.
O Argumento Cosmológico de Kalam é bastante simples. Tem duas premissas!
A primeira é:
QUALQUER COISA QUE COMECE A EXISTIR TEM UMA CAUSA.
A segunda premissa é:
O UNIVERSO COMEÇOU A EXISTIR.
Se essas duas premissas forem verdadeiras, a conclusão lógica que se segue é:
O UNIVERSO TEM UMA CAUSA.
Parece simples, não é? Más não nos precipitemos, vamos analisar cada premissa mais cuidadosamente.
1) QUALQUER COISA QUE COMECE A EXISTIR TEM UMA CAUSA
Há uma série de razões para pensar que essa premissa é verdadeira. A ideia de que tudo o que começa a existir tem uma causa é evidente e podemos comprová-la a partir de nossa própria experiência de vida.
Vemos uma criança e logo sabemos:
Ela tem uma causa.
Seus pais são a causa.
Vemos uma nova poça de água no quintal e logo sabemos:
Ela tem uma causa.
A chuva recente.
A premissa de que qualquer coisa que começa a existir tem uma causa é usada em nossas explicações científicas do mundo. De fato, o fato de que tudo que tem um início tem uma causa é o que permite que existam investigações científicas.
· Se houver um grande incêndio florestal, não dizemos, “Oh, simplesmente aconteceu. Nada causou isso”. Nós, ao contrário, procuramos uma causa. Foi causado por um raio? Foi causado por alguém fumando? Foi causado por alguém que não cuidou de uma fogueira corretamente?
· Quando uma parcela de uma plantação de milho cresce e produz mais que a parcela logo ao lado, não dizemos “Ah, isso não tem causa nenhuma. Simplesmente aconteceu”. Não! Nós perguntamos o que causou essa diferença em crescimento e produção. As duas parcelas foram plantadas com sementes diferentes? Houve algum tipo de adubação especial? A incidência solar é a mesma? Houve aplicação de produtos biológicos? O que fez com que essa parcela da plantação produzisse muito mais que a outra?
A
TODAS AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS CONHECIDAS CONFIRMAM QUE
TUDO QUE COMEÇA A EXISTIR TEM UMA CAUSA.
NÃO HÁ NENHUMA EVIDÊNCIA CIENTÍFICA DE QUE ALGUMA COISA SIMPLESMENTE COMEÇOU A EXISTIR, SEM CAUSA.
Portanto, temos todas as evidências indutivas do mundo de que a primeira premissa do argumento de Kalam é verdadeira:
QUALQUER COISA QUE COMECE A EXISTIR TEM UMA CAUSA.
Consideremos, por um momento, a alternativa contrária:
Qualquer coisa que comece a existir não tem uma causa. Ou seja, algo pode surgir do nada. Ou melhor: o nada pode produzir alguma coisa.
Afirmar que algo pode surgir do nada é pior do que acreditar em mágica. Quando um mágico puxa um coelho de sua cartola, pelo menos nós sabemos que há um mágico e há uma cartola, e que, de alguma maneira, o mágico é a causa de um coelho ser retirado da cartola, só não sabemos como, mas sabemos a causa. Por outro lado, acreditar que algo pode surgir do nada, é o mesmo que acreditar que um coelho pode se materializar, num piscar de olhos, bem em cima da sua mesa, durante o jantar, sem nenhuma causa.
PORTANTO, É RACIONAL ACREDITAR QUE
TUDO QUE COMEÇA A EXISTIR TEM UMA CAUSA.
Todas essas linhas convergentes de evidências, providas pela ciência contemporânea, apontam para o início do universo há cerca de 13,7 bilhões de anos.
Vamos agora dar uma olhada na segunda premissa do Argumento Cosmológico de Kalam.
2) O UNIVERSO COMEÇOU A EXISTIR.
Quando falamos "universo", queremos dizer:
Todo o tempo, todo o espaço e toda a matéria existente.
Portanto, a segunda premissa poderia ser reafirmada como:
Todo o tempo, todo o espaço e toda a matéria começaram a existir.
Mas, é verdade mesmo que o universo começou a existir?
Aristóteles, por exemplo, pensava que o universo era eterno, que sempre existiu. Mas aprendemos muito sobre a origem do universo desde a época de Aristóteles. Há boas razões científicas para acreditar que o universo começou a existir. Cientistas, tanto cientistas ateus quanto cientistas teístas apontam para linhas convergentes de evidências científicas de que o Universo teve um começo. Sabemos hoje que, em um ponto no passado, cerca de 13,7 bilhões de anos atrás, todo o universo conhecido se expandiu abruptamente, como numa “explosão”. Essa expansão, é chamada de “Big Bang” e é um conceito científico bem conhecido e usado para afirmar que o universo teve um início.
Há, na verdade, mais confirmações científicas do início do universo. Uma muito importante é a Segunda Lei da Termodinâmica. Mas esse é um conceito da física que demandará um pouco mais tempo para expô-lo, então preferimos abordar esse tema num outro artigo, mais adiante neste mesmo curso. De toda forma, a Segunda Lei da Termodinâmica aponta para um universo que começou a existir. Os cientistas também forneceram outras evidências que, igualmente, apontam para o universo ter um começo. Por exemplo, a dispersão de radiação do universo aponta para um início do tempo, do espaço e da matéria, que pôde ser estimado como sendo de aproximadamente 13,7 bilhões de anos atrás. Evidências coletadas do telescópio Hubble também apontam para o início do universo há mais de 13 bilhões de anos. Ou seja:
Portanto, se é verdade que o tempo, o espaço e a matéria surgiram há 13,7 bilhões de anos, então:
O UNIVERSO COMEÇOU A EXISTIR.
SE TODAS AS COISAS QUE COMEÇAM A EXISTIR TÊM UMA CAUSA
E se,
O UNIVERSO - TODO O TEMPO, ESPAÇO E MATÉRIA - TEVE UM COMEÇO
A conclusão racional que, necessariamente, se segue é:
O UNIVERSO TEM UMA CAUSA.
O UNIVERSO TEM UMA CAUSA, E ESSA CAUSA É CHAMADA DE DEUS.
Inevitavelmente, surge a pergunta:
É A CAUSA DO UNIVERSO, DEUS?
Vamos usar a razão juntos:
a) a causa do universo tem que ser anterior ao tempo, porque a causa do universo é quem fez com que o tempo começasse a existir. Não havia o Tempo antes do Inicio do Universo. Então você pode dizer que a causa do universo tem que ser alguma coisa fora do tempo. Algo atemporal. Algo eterno, ou seja, que não tem começo, nem fim.
b) A causa do universo também trouxe à existência a matéria e o espaço. Deste modo, a causa do universo é anterior à matéria e ao espaço. Portanto, a causa do universo é imaterial e não espacial, ou seja, não está limitada pelo espaço.
c) Claramente, a causa do universo também tem que ser algo imensamente poderoso. Pense em quanta energia é necessária, por exemplo, para fazer um aeroporto. São necessários todos os tipos de soldadores, projetistas e enormes fábricas para fazer os aviões e as estruturas de embarque e desembarque. Pense em quanta energia está contida em um único átomo, cuja fissura e liberação de energia é capaz de destruir vastas áreas do planeta. Agora, imagine o poder necessário para fazer todos os átomos do universo. Imagine o poder necessário para fazer todo o tempo, todo o espaço e toda a matéria, incluindo todos os planetas e estrelas. Isso tudo exigiu um imenso poder, um poder inacreditável.
Agora, como é que se chama algo que é imaterial, que não é limitada pelo espaço, que é eterno e imensamente poderoso? Qual o nome se dá a algo que fez todo o tempo, todo o espaço e toda a matéria? Bem, esses, por conceito, são os atributos de Deus. Se Deus não fosse imaterial, eterno, não limitado pelo espaço, imensamente poderoso, não seria chamado de Deus.
A palavra que usamos, portanto, para descrever a causa imaterial, atemporal, eterna e imensamente poderosa do universo é “Deus”.
Portanto, é razoável dizer que:
O que vamos fazer no próximo artigo é examinar os argumentos que Tomás de Aquino dá para a existência de uma causa primeira. Falaremos sobre as famosas maneiras de Aquino de argumentar sobre a existência de Deus e como a fé e a razão trabalham em harmonia, apontando para a sua existência.