
ELE É BOM PARA OS INGRATOS E OS MAUS! (Lc 6,27-38)
Sobre o Evangelho desta QuInta-feira (1209/2024)
Quem é bom para os maus? De quem Jesus está falando? Ele fala de Deus Pai, a fonte de todo bem. Quando o sol nasce, nasce para os santos e os pecadores. Quando a chuva cai, fertiliza a terra dos camponeses e dos tiranos. O amor de Deus é universal, estende-se a toda criatura.
Será esta uma boa notícia para todos nós? Motivo de celebração e ação de graças? Nem sempre... Há quem prefira um Deus juiz, cujo martelo separe rigorosamente a humanidade em dois blocos estanques: os bons e os maus. Há quem reclame por um Deus vingador, cuja espada esteja pronta a decapitar o ladrão e o estuprador.
Não é verdade que, diante do mal, alguém pergunte: “Deus não está vendo? Como é que Deus permite uma coisa dessas?”
Ora, Deus é amor. O amor nunca diz: “Que seja a última vez! Não me caia noutra!” O amor sempre abre um novo caminho depois da queda. O amor é irmão gêmeo da esperança.
Quando comecei a participar de uma equipe de evangelização em um presídio de segurança máxima – e ali estive por cinco anos –, dentro de minha própria família houve quem discordasse daquele serviço cristão. Um parente próximo me interpelou: “Mas eles não roubaram? Não mataram? Então...” E a frase interrompida queria dizer: eles não merecem... Ora, quem de nós “merece” a tortura sofrida por Jesus em sua cruz? Quem “merece” o sangue de um Deus derramado no Calvário? Não é mérito nosso, é amor de Cristo.
E mais: o julgamento duro do homem honesto (aquele que ainda não roubou, nem matou... pelo menos até hoje...) é uma tentativa de cristalizar o criminoso em seu crime, petrificar o pecador em seu pecado. Ora, Deus sabe que o honesto de hoje pode ser o bandido de amanhã. Deus sabe que o Saulo de hoje pode ser o Paulo da próxima semana.
Existe ainda um outro lado: a irracionalidade de nossa ética humana. Matar é crime? Segundo o código penal, homicídio é crime. Mas o Estado não convoca os jovens para matarem na guerra? A legítima defesa não inclui o direito de matar? E que dizer daqueles que defendem o aborto legal?
Assim, temos dificuldade em oferecer a outra face ao agressor. Não entendemos a alegria dos mártires quando lhes tiram vida por causa de Jesus Cristo. Eles sabem que o amor vale mais que a vida...
Orai sem cessar: “Quem permanece no amor, permanece em Deus.” (1Jo 4,16b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.


IMAGEM DE CAPA:
Prisão de Cristo , final da década de 1620
Guercino (Giovanni Francesco Barbieri) / Itália / 1591–1666
Caneta e tinta marrom e tinta marrom
20 x 30 cm
Museu de Arte da Universidade de Princeton, Princeton, NJ, EUA