a glass of red wine

ELES SE ENCHERAM DE RAIVA... (Lc 6,6-11)

Sobre o Evangelho desta segunda-feira (09/09/2024)

Antonio Carlos Santini

9/9/20242 min ler

O cenário é a sinagoga judaica, onde os judeus fiéis se reúnem todos os sábados para ouvir e partilhar a Lei e os Profetas. Diante deles está Jesus, nada menos que o Messias prometido por Deus e esperado há séculos por muitas gerações do povo escolhido. Exatamente aquele Messias de quem falava o profeta: “Ele não quebra o caniço já rachado, nem apaga o pavio já fraco de chama...” (Is 42,1-4)

Caniço rachado... pavio fumegante... Símbolos da fraqueza humana, marcada pela doença e pela dor, por todos os limites de nossa condição. Diante da humana miséria, Deus prometera um Messias – isto é, um Ungido, um Cristo – que viria para consolar, para reanimar e curar. Enfim, um Salvador.

E ali, bem no meio da sinagoga, chamado por Jesus ao centro das atenções, está o homem “de mão seca”, alguém que perdera os movimentos da mão. Neste momento, é ele o caniço rachado. É ele a mecha que ainda fumega. E Jesus faz a pergunta que devia encontrar a resposta em todas as promessas renovadas pelos profetas da Primeira Aliança: “Em dia de sábado, o que é permitido fazer: fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixar morrer?”

Neste momento, com evidente intenção didática, o Mestre faz uma pausa e corre o olhar em torno, envolvendo a todos os presentes. O silêncio deixa todos em suspenso. Agora, ele diz ao deficiente: “Estende a mão!” E assim que este o faz, tem restabelecidos os movimentos da mão.

O milagre devia ser entendido como um “sinal”. O milagre sinaliza que o caniço pode ser renovado, e a chama ser devolvida ao pavio. Mais: pode clamar que ali está, bem à frente de todos, o Messias prometido.

Mas escribas e fariseus – os homens da Lei mosaica – estão aferrados ao preceito sobre o sábado, quando era interdito todo trabalho manual, inclusive a medicina. Daí a sua reação: encheram-se de raiva. Podiam encher-se de alegria, do mais profundo júbilo, se conseguissem clamar: “Ele chegou! O Messias está no meio de nós!”

Ainda hoje, existem religiosos irados, fiéis raivosos. Sua religião, que poderia ser uma nascente de louvor e ação de graças, é antes de tudo uma espécie de campanha guerreira, que consiste em refutar doutrinas, realçar os erros dos outros, acusar os pecadores e rogar o fogo do céu sobre eles.

Enquanto isso, o pavio fumega, à espera de um sopro de vida...

Orai sem cessar: “O Senhor dá a bênção e a vida para sempre!” (Sl 133,3b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

IMAGEM DE CAPA:

Festa na Casa de Simão, o Fariseu

Peter Paul RUBENS / Bélgica /1618 - 1620

Óleo sobre Tela

Museu Hermitage, São Petersburgo, Russia