a glass of red wine

ENQUANTO O NOIVO ESTÁ COM ELES (Lc 5,33-39)

Sobre o Evangelho desta sexta-feira (06/09/2024)

Antonio Carlos Santini

9/6/20242 min ler

Os fariseus eram gente séria. Concentravam-se em frequentes orações e jejuns. Eram extremamente ciosos no cumprimento da Lei mosaica. Mas eram tristes... Não lhes passava pela cabeça que religião fosse fonte de alegria.

E não era culpa das Escrituras que tanto prezavam. Pelo Deuteronômio, a celebração do culto devia culminar em alegria: “Então, te alegrarás com o levita e o estrangeiro que mora em teu meio por todos os bens que o Senhor teu Deus deu a ti e à tua família”. (Dt 26,11) E o salmista sentia a religião como causa de alegria: “Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!” (Sl 105,3)

No Evangelho de hoje, os fariseus fazem críticas a Jesus de Nazaré porque os discípulos dele comiam e bebiam. Algo me diz que as refeições entre estes eram um tanto ruidosas, com risos e brincadeiras. E não podia deixar de ser assim, pois o “noivo” estava com eles. E uma festa de casamento não é lugar de tristeza. No texto grego de São Lucas, os discípulos são chamados de “filhos do noivo” ou, se quiserem, “companheiros dos esponsais”. Por isso eles festejam.

Em resposta, Jesus diz que “dias virão” em que os discípulos iriam jejuar. Ele se referia à sua paixão e morte, quando as lágrimas iriam substituir o riso. A ausência do noivo seria “por um pouco de tempo” (cf. Jo 16,19-20). Mas uma vez ressuscitado, uma vez enviado o Consolador (cf. Jo 16,7), a alegria seria recuperada, uma alegria que ninguém lhes poderia roubar (cf. Jo 16,22). Não seria outra a marca principal das celebrações cristãs: “Partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração” (At 2,40).

Naturalmente, aqui cabe uma reflexão útil para nossos dias: quem assiste às nossas celebrações chega a perceber a nossa alegria? Claro, não estou falando de agitação, música barulhenta e desordem, mas da alegria serena (seu melhor sinônimo é “letícia”) que brota dos corações tocados pela presença de Jesus. Uma forma de alegria profunda que afasta a tensão, dilui as barreiras entre as pessoas e orienta nosso coração para a partilha e a convivência fraterna...

Jesus também fala de odres e vinhos. Ele sabe que um odre velho, já ressequido, não iria suportar a fermentação do vinho novo, e ambos se perderiam. Parece, pois, que os velhos odres precisam passar por uma renovação antes de acolher o vinho novo. Do contrário, sem vinho – como em Caná, antes do milagre – a festa de casamento assumirá ares de funeral...

Orai sem cessar: “Que alegria quando me disseram: vamos para a casa do Senhor!” (Sl 122,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

IMAGEM DE CAPA:

As Bodas de Caná

Paolo Veronese / Itália /1571 - 1572

Óleo sobre Tela

207 x 467 cm

Pinacoteca dos Mestres Antigos, Dresden, Alemanha