
ENTRE VÓS NÃO DEVE SER ASSIM... (Mc 10, 35-45)
OS EVANGELHOSMC 10
Disputa pelos primeiros lugares. Ânsia de glória e sucesso. Busca da primazia entre os irmãos... Que bela “troupe” o Rabi da Galileia foi reunir! Os “santos Apóstolos” eram tão humanos como nós.
É óbvio que os discípulos já tinham percebido que Jesus não era um “homem comum”. Anteviam no humilde carpinteiro o esperado Messias, o Rei de Israel. E se Jesus anunciava um “Reino”, por que não ocupar nesse império um lugar de destaque?
Jesus corta bem rente esses sonhos de grandeza: “Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior, seja como aquele que serve”. Não há espaço para destaques ou vantagens individuais no Reino anunciado.
Mais tarde - após a “derrota” do Calvário, após as luzes da Páscoa, após o fogo de Pentecostes - a fé renovada dos discípulos iria manifestar um conjunto de atitudes completamente diferente. É o que registrava o Papa Bento XVI, na Carta “Porta Fidei”: “Pela fé, [os Apóstolos] foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda criatura e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas”. (PF, 13.)
E esta mesma fé - que sustenta o testemunho, a ponto de arriscar a própria vida - é também a fé que reformula e reconstrói toda a personalidade do homem: “Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afetos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida”. (PF, 6.)
Meditando estas palavras, algo me diz que temos transferido para o âmbito da psicologia e da autoajuda, do poder da mente e das dinâmicas de grupo, aqueles problemas e aquelas crises que encontrariam solução e resposta num simples ato de fé...
Uma rápida avaliação na vida dos apóstolos e dos santos de todas as épocas revela outra realidade: homens e mulheres frágeis como nós, feridos como todos nós, mas capazes de apostar na Palavra que ouviram do Senhor. E fundamentados nesta aposta, superaram todos os limites humanos, aí incluídos os milagres e o martírio.
Orai sem cessar: “A tua promessa me faz viver!” (Salmo 119,50)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
O Bom Samaritano (em cópia de Eugène Delacroix)
Holanda/ 1890/ Vincent Van Gogh
Museu Kröller-Müller, Oterlo, Países Baixos.

