ESBANJAR OS BENS... (Lc 16,1-8)
Antonio Carlos Santini
11/7/2025
Foi esta a acusação que levou o gerente a ser demitido pelo Proprietário das terras: esbanjar os bens. Realmente, isto não se faz!
Quando o Dono das terras admite um gerente, inicia uma relação de mútua confiança. Por um lado, o Senhor das propriedades espera por algum retorno e confia que a atuação do gerente levará a terra a produzir o ouro do trigo e o sangue vivo das videiras. Por outra parte, o gerente merece o salário combinado e, talvez, uma participação nos lucros de seu Patrão.
Sei que não estou no foco da parábola contada por Jesus e registrada por São Lucas, que era bem outro: para tomar posse das coisas de Deus, os filhos da luz deveriam dedicar a mesma astúcia e o mesmo empenho que os filhos do mundo dedicam às posses materiais. Esta era a lição central que o Mestre nos passava.
Mas vou prosseguir no rumo inicial: não se pode impunemente esbanjar os bens que nos foram confiados. E isto inclui, por certo, os dons da Criação. Em sua recente Encíclica sobre as questões ambientais, que tem como título as palavras de um poema de Francisco de Assis – Laudato Si’ -, o Papa do mesmo nome escreve:
“Esta irmã [nossa casa comum, o planeta Terra] clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8,22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2,7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.” (Laudato Si’, 2)
Estas palavras do Papa nos ajudam a tomar consciência de que estamos imersos em um processo iniciado já na Idade Média, e que podemos chamar de expansão capitalista. Movidos pelo lucro, os homens consideraram os dons do Criador – o Proprietário / Dono / Patrão – como reles matéria-prima logo transformada em mercadoria. Uma sociedade mercantil tende a cometer esta degradação dos dons divinos: nada mais que matérias, substâncias e objetos para comprar, vender e acumular.
Na prática, esta realidade faz de nós sérios devedores. Estamos sujeitos a uma grave cobrança: “Presta contas de tua administração!” (Lc 16,2) Não seria a hora de convocar os outros devedores e realizar uma boa partilha de tudo o que acumulamos indevidamente?
Orai sem cessar: “Abres a mão, Senhor, e todos se saciam de bens!” (Sl 104,28)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 16, 1-8
O administrador infiel —1Dizia ainda a seus discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar dissipando os seus bens. 2Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isso que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não podes ser administrador!’ 3O administrador então refletiu: ‘Que farei, uma vez que meu senhor me retire a administração? Cavar? Não posso. Mendigar? Tenho vergonha…
4Já sei o que vou fazer para que, uma vez afastado da administração, tenha quem me receba na própria casa’. 5Convocou então os devedores do seu senhor um a um, e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’ 6‘Cem barris de óleo’, respondeu ele. Disse então: ‘Toma tua conta, senta-te e escreve depressa cinqüenta’. 7Depois, disse a outro: ‘E tu, quanto deves?’ — ‘Cem medidas de trigo’, respondeu. Ele disse: ‘Toma tua conta e escreve oitenta’. 8E o senhor louvou o administrador desonesto por ter agido com prudência. Pois os filhos deste século são mais prudentes com sua geração do que os filhos da luz.
Texto da Bíblia de Jerusalém.



