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ESTE É MEU FILHO, O AMADO... (Mc 9,2-10)

Sobre o Evangelho desta Terça-Feira (06/08/2024)

OS EVANGELHOSMC 9

Antonio Carlos Santini

8/6/20242 min ler

Percorrendo os evangelhos sinóticos, vemos registradas duas teofanias em que o Filho é identificado diretamente pelo Pai: o episódio do batismo de Jesus (cf. Mc 1,9-11) e, no Evangelho de hoje, a transfiguração no alto da montanha que a tradição identificou como o Monte Tabor.

Em ambas as passagens, faz-se ouvir do alto com toda a clareza a voz do Pai: “Este é meu Filho, o Amado”. No texto grego, a expressão “o amado” [ho agapetos] é um aposto de “filho”. Mais que um simples adjetivo, pode ser tomado como um “nome” do Filho: ele é “o amado do Pai”. Isto se confirma na Carta aos Efésios (1,6), quando o apóstolo Paulo escreve que o Pai “nos agraciou em seu Amado” (en toi egapemenoi). Isto é, o Pai nos ama na pessoa de seu Filho, na medida em que nos identificamos com ele, com quem fomos configurados no batismo cristão.

Ora, esta “identificação” – objetivo final da vida cristã – ocorre através da Palavra do Filho, daí a exortação da mesma voz do Tabor: “Ouvi-o!” Se o Pai nos fala através de seu Filho amado, e nós acolhemos sua Palavra, então o amor do Pai flui para nós. Se, ao contrário, ficamos surdos à mesma Palavra, interrompemos o canal amoroso que estava à nossa disposição.

Na teofania do batismo no Jordão, um cintilante jato de luz é lançado sobre toda a primeira parte do Evangelho de Marcos, culminando com a declaração de Pedro: “Tu és o Messias!” (Mc 8,29) Agora, na teofania do Tabor, a luz divina vem iluminar a segunda parte, marcada pelos anúncios da Paixão e morte de Jesus, preparando terreno para a proclamação do “filho de Deus” feita pelo centurião romano (cf. Mc 15,39) e para a descoberta da ressurreição (cf. Mc 16,1-8).

Na 1ª Carta de João, a palavra habitualmente traduzida por “caríssimos”, é o mesmo termo grego [agapetoi] no sentido de “amados”. Isto permite a seguinte leitura: “Amados, agora somos as crianças [tekna / filhos] de Deus”, sugerindo que fomos adotados como filhos em razão do amor derramado sobre nós, pelo Pai, na pessoa de Jesus. Ou seja, nós somos filhos “no Filho”.

Graças à Eucaristia, o sacramento do amor, os católicos dispõem de mais um canal de identificação com o Filho, ao serem alimentados pelo Corpo e Sangue de Jesus, em autêntica simbiose concorpórea. Por isso mesmo, a mesa eucarística é aquele ponto de encontro entre o Amado e os amados do Pai, profundamente mergulhados no rio de amor que brota do coração do Pai.

Orai sem cessar: “Ouvirei o que diz o Senhor!” (Sl 85,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Imagem de Capa

A Transfiguração de Jesus / Carl Bloch / Dinamarca / 1872

Material: Óleo em Tela

Localização: Castelo de Frederiksborg, Hillerød , Dinamarca