FELIZES SEREIS (Mt 5,1-12a)

Sobre o Evangelho desta segunda-feira (10/06/2024)

Antonio Carlos Santini

6/10/20242 min ler

O Evangelho nos oferece uma “receita de felicidade”. Os ingredientes podem chocar o leitor distraído: pobreza, lágrimas, não-violência, fome e sede, coração de pobre, pureza, ação pela paz, perseguição e, enfim, injúria e calúnia. O resultado de tudo isto recebe o nome de “bem-aventurança”!

Jesus não está fazendo um recorte na sociedade para excomungar certas classes sociais e beatificar outras. Ele sabe que há ricos entre os pobres e pobres entre os ricos. Sabe que há fracos no meio dos fortes e fortes no meio dos fracos. Pode ajudar a entender, se consideramos que o Paraíso foi inaugurado por um ladrão: de algum modo, ali na cruz, ao lado de Jesus, ele conseguiu enquadrar-se em uma destas “categorias”...

Se a “receita” fica entalada em nossa garganta, é que estamos acostumados a critérios bem diversos para considerar quem merece e quem não merece entrar no Reino de Deus. Ora, é exatamente este Reino que aparece como o fiel da balança em cada uma estas bem-aventuranças. Ser um pobre diante de Deus é essencial para ser salvo: reconhecer a nulidade de nossos méritos, nossa indigência profunda diante daquele que está acima de todos os tesouros. Chorar, sim, mas não porque nos consideramos vítimas do destino. Chorar acima de tudo por nossos pecados, pela indiferença ao amor de Deus, pelas agressões (conscientes ou não) contra seu coração amoroso.

Ser manso, sem invocar as legiões celestes, sem desespero nem brados de vingança, porque nossa sorte está nas mãos de Deus. Ter sede de justiça não significa fazer passeatas e lançar tortas na cara dos governantes. A justiça de Deus é a santidade. Quem tem esta sede será feliz.

Ter coração de pobre é sentir a dor do outro, calçar suas botinas e chorar suas lágrimas. Estender para fora do templo o abraço da paz que foi ensaiado lá dentro. Um coração puro não simula, não frauda, não adultera. Não aceita fingir como se fosse... Não emporcalha a palavra. Não olha podre, não lança iscas, não babuja o amor. Sem um coração puro, não se enxerga a Deus.

Promover a paz é ceder a vez. Descer do pódio. Desarmar-se. Estender pontes sobre o fosso, contornar a muralha do ódio. E, se preciso for, morrer na cruz. Ser perseguido só faz feliz quando não se merece a perseguição. Senão, o assaltante seria feliz com a polícia no seu encalço. É o amor ao Reino que faz a perseguição bem-aventurada, não as nossas loucuras e imprudências.

É por causa de Cristo que nos cobrirão de injúrias. É por causa dele que nos deixarão à margem. Ficaremos felizes?

Orai sem cessar: “Vossa graça me é mais preciosa que a vida!” (Sl 63,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Material adicional: Expressões culturais deste evangelho: