
FELIZES VÓS! (Lc 6,20-26)
Sobre o Evangelho desta quarta-feira (11/09/2024)
Em 7 versículos, 4 bem-aventuranças e 4 ais! Dois pratos da balança: no primeiro a ventura, no segundo a desventura. Em suma, uma receita de felicidade. Qual será o fiel da balança?
Uma pesquisa de opinião poderia inquirir a respeito da felicidade. Como chegar a ela? Viriam variadas respostas: dinheiro, saúde, casa nova, bom salário, um bom casamento... Curiosamente, tudo isto, coisas que perdemos com o tempo. O dinheiro é roubado, a saúde fenece, a casa trinca, a demissão interrompe o salário, os casamentos terminam em divórcio. Efêmeras felicidades...
Ao falar de felicidade – de fato, está falando sobre os bem-aventurados! -, Jesus toca em um ponto sensível de nossa existência, um verdadeiro nervo exposto. Logo nos inclinamos a imaginar uma “felicidade” concreta, palpável e, de preferência, para já! No entanto, a diferença entre felicidade e bem-aventurança não é apenas questão de semântica: um abismo as separa.
O monge beneditino François Trévedy comenta: “A felicidade, a pequena felicidade, não sabe crescer, enquanto a beatitude, cujo outro nome é alegria, é imensa por natureza. Somente ela tem a nossa medida, pois está na medida de Deus”. É uma forma de dizer que não seremos realmente felizes com “felicidadezinhas”. Nossa sede vai muito além.
Não se trata de desprezar as pequenas felicidades, como o vinho de Caná, ou os pães e peixes multiplicados e logo partilhados conosco. O Mestre estabelece uma tensão dialética entre os 4 ais e os 4 vivas! Melhor ainda: entre um agora e um futuro. Mesmo sem elevar muito o olhar, vemos que o político corrupto age em função de um agora e compromete seu futuro. Mas se olhamos mais alto, em termos de eternidade, o contraste se torna chocante.
Alguns escolhem: “Vamos comer e beber, pois amanhã morreremos!” (Is 22,13) São Paulo contrapõe: “Se é somente para esta vida que depositamos nossa esperança em Cristo, somos os mais infelizes de todos os homens!” (1Cor 15,19) E aqui se manifesta o nosso FUTURO cristão: nosso futuro é Cristo!
François Trévedy vai adiante: “Cristo é nosso futuro próximo, a tal ponto próximo, que ele JÁ é nosso presente. Saibamos permanecer em nossa fome: ela é boa e nos faz bem, desde que esperemos somente de Cristo que ela seja saciada”. Ter fome de Cristo, apresentar-lhe nossa pobreza e nossas lágrimas, ser perseguido por causa dele, eis 4 ingredientes essenciais da bem-aventurança.
Orai sem cessar: “Feliz do homem que põe no Senhor sua esperança!” (Sl 40,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.


IMAGEM DE CAPA:
A Oração na Hora da Refeição
Fritz Von Udeh / Alemanha /1885
Óleo sobre Tela
130 x 165 cm
Galeria Nacional Alte, Berlin, Alemanha
Notar humildade do Lar.