A CRUCIFICAÇÃO - MATTHIAS GRÜNEWALD (Lc 23)

PINTURASCULTURAPRLC 23

Antonio Carlos Santini

3/17/20252 min ler

Lucas 23.

Mathias Grünewald / 1512-1516

A CRUCIFICAÇÃO

Mathis Gothart Niethart, conhecido como Matthias Grünewald (Würzburg, 1470 - Halle an der Saale, 31 de agosto de 1528) foi um pintor alemão, visto como precursor do expressionismo, embora situado no gótico tardio.

A seu gênio criador devemos a “Crucifixão”, no centro do retábulo de Issenheim, elaborado entre 1512 e 1516. Este é formado por 9 painéis, sendo o mais conhecido a sua tábua central, com uma Crucificação, que mede 269 cm de alto e 307 cm de largura.

Sem dúvida, a cena da crucifixão de Jesus Cristo no Calvário é um dos temas mais explorados na arte sacra cristã, ao lado da sua Natividade e da Anunciação.

Na tela de Grünewald, o que chama a atenção é um clima de horror, sem o costumeiro ar de piedade, às vezes até melosa, adotado pelos pintores. É como se a morte da Vítima inocente bradasse um clamoroso grito no cenário da natureza ensombrecida.

Vemos um fundo com traços apocalípticos, uma noite profunda onde o cosmo naufraga. O corpo do Crucificado está envolvido em um luar mórbido, tingido de uma tonalidade olivácea. Ele se retorce como um vegetal na queimada, deformado pela tortura e pela dor. O braço horizontal da cruz parece vergar-se ao peso dos pecados do mundo.

Ao pé da cruz, à esquerda do espectador, um grupo reúne a Mãe de Deus, Maria, vestida de branco; o discípulo amado, João; e a pecadora, Maria Madalena, obviamente confundida com a mulher que ungira os pés de Jesus no banquete, como indica o vaso de nardo a seus pés (cf. Jo 12,3). É visível uma linha em forma de arco que se lança para trás, deixando clara a repulsa das personagens diante do absurdo da Paixão.

À direta, em intencional anacronismo, surge de pé João, o Batizador, cujo dedo indicador, extremamente alongado, aponta para o Cristo. Uma inscrição em latim diz: “Oportet illum crescere, me autem minui” [Importa que ele cresça, e que eu diminua].

Na tela, as figuras são iluminadas da direita para a esquerda. O foco de luz brota do livro da Escritura, aberto nas mãos do Batista. A Palavra de Deus, lâmpada e escudo, é sua força.

Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus. A vítima do sacrifício salvador. Daí, a imagem de um cordeiro, ao pé de João Batista, com uma ferida no peito, de onde jorra o sangue recolhido no cálice.

Estamos diante de uma obra-prima da arte sacra, onde os limites entre o belo e o horrível parecem atenuar-se. Mas nada que deva atenuar nosso horror ao pecado, sem o qual todo este drama não teria existido. Foi bem alto o preço de nossa redenção...

Retábulo de Issenheim – 1512-1516 – hoje no museu de Interlinden (Colmar, Alsácia).

“A morte de Cristo na cruz é a destruição

de todas as nossas imagens piedosas, edificantes.

Ela é a explosão e a derrota

de todas as nossas representações de Deus.

Escândalo e loucura, eis o que ela é.”

(Éloi Leclerc)