ÍCONES DE PENTECOSTES

CULTURANO MUNDO DOS ÍCONESARTIGOSPRAT 2

Antonio Carlos Santini

6/8/20252 min ler

Este ícone recorda a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos no Cenáculo de Jerusalém (cf. At 2). Todo o espaço é inundado pela Luz divina ao cumprir-se a promessa do Pai renovada pelo Filho (cf. Lc 24,49; Jo 14,16). O Espírito que Jesus entregara ao Pai (cf. Lc 23,46) vem inaugurar a vida da Igreja.

À esquerda, no alto, a Primeira Aliança que esperava pela luz plena é representada pela sinagoga, com a parede lateral ainda na penumbra. À direita, a Nova Aliança no Espírito é figurada pela Igreja, com a fachada toda lavada de sol, plenamente iluminada pelo dom de Pentecostes. Sob dupla figuração – Maria e os Doze – a imagem da Igreja lembra um arco romano, com a Mãe de Deus ocupando o lugar da chave de abóbada, o que recorda sua preeminência entre os apóstolos no espaço de dez dias entre a Ascensão e Pentecostes.

No alto, em posição central, a azul esfera celeste – o espaço divino -, fonte de onde jorram línguas de fogo que se derramam individualmente sobre os Doze. Três dos apóstolos foram substituídos por Paulo e os evangelistas Lucas e Marcos, ampliando sugestivamente a compreensão da Igreja universal. Se todos recebem na unidade a mesma chama do Espírito Santo, entretanto as mãos e a postura de cada um são diversas, para recordar a diversidade dos dons e dos carismas (cf. 1Cor 12,4-11).

Todos, porém, são portadores do rolo da Palavra, pois sua missão é o anúncio do Evangelho. Este modelo do ícone da descida do Espírito Santo corresponde aos padrões mais antigos da iconografia oriental. Já o ícone abaixo é de data posterior, mostrando certa evolução na compreensão do mistério. O espaço antes ocupado por Maria aparece vazio, aberto à expectativa da Segunda Vinda do Senhor, que está à direita do Pai, mas sempre presente como Cabeça de seu Corpo místico, a Igreja. Mais que simples ilustração de Atos 2, o ícone aponta para a unidade do Povo de Deus (12 tribos / 12 apóstolos) revestido do “poder do alto” (cf. Lc 24,49), condição essencial para o cumprimento de sua missão na história.

Em baixo, em uma gruta escura, o Cosmo – que também geme à espera da salvação (cf. Rm 8,22) é representado por uma figura real que estende as mãos para receber a Graça, tendo uma toalha com os 12 rolos da pregação dos apóstolos. É importante saber... A festa de Pentecostes já era celebrada pelo povo judeu, com o sentido de remissão e libertação da escravidão no Egito. 50 dias após a Páscoa, quando se quebrava a primeira espiga da colheita, Pentecostes vem a ser a Plenitude da Páscoa, quando se colhe a última espiga, após o tempo da colheita, quando moravam em tendas no campo plantado. O grão lançado à terra (Jo 12,24) morre para dar abundante colheita. (ACS)