JEFTÉ E SUA FILHA - Pintura de Sebastiano Ricci (Jz 11, 30-39)

PINTURASCULTURALEITURAS DA LITURGIAPRJUÍZES

Rafael Andrade Filho

8/21/2025

Juízes 11, 30-39

SEBASTIANO RICCI / 1710

Jefté e Sua Filha

Na obra de Sebastiano Ricci, vemos o guerreiro Jefté sendo recebido por sua filha ao retornar da batalha contra os Amonitas. À esquerda, sua filha encontra o pai com entusiasmo, "com tamborins e dançando". À direita, Jefté parece recuar, claramente assustado com a visão à sua frente. "Jefté e Sua Filha" é pintada magistralmente, com as cores exuberantes características do estilo veneziano de Ricci. Apesar de sua elegância, a imagem também revela uma ironia devastadora. Afinal, quem é esse capitão militar protegido por armadura que recua? Que ameaça o faz voltar para trás das forças que comanda? Não é um guerreiro inimigo, mas a própria filha de Jefté, armada apenas com um pandeiro.

O choque de Jefté, capturado de forma tão expressiva na cena, é uma consequência direta de sua insensatez. Jefté, o gileadita, é descrito como “um guerreiro valente” e “filho de uma prostituta”. Rejeitado por sua família devido à sua origem duvidosa, ele se retira para o deserto, onde atrai marginais e excluídos, tornando-se líder de uma gangue rústica e combativa. Quando Israel é ameaçado pelos Amonitas, os parentes de Jefté buscam sua ajuda. Percebendo sua urgência, Jefté faz um acordo: “Se me trouxerem de volta para lutar contra os Amonitas, e o Senhor os entregar nas minhas mãos, serei o chefe de guerra.” Inspirado pela perspectiva de liderança, Jefté enfrenta os Amonitas, mas não antes de fazer um fatídico voto dirigido a Deus: “Se entregares os Amonitas em minhas mãos, quem sair da minha porta para me receber será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto.” A batalha o favorece, e Jefté retorna para sua casa em Mispa. Ao se aproximar da residência, sua filha vem ao seu encontro, dançando e sacudindo um tamborim. Jefté fica perturbado ao perceber que a primeira pessoa a cumprimentá-lo é sua única filha. Apesar disso, em um ato que viola a proibição divina contra o sacrifício humano, Jefté cumpre sua promessa.

Não podemos deixar de comparar a disposição de Jefté de sacrificar sua única filha com a de Abraão em relação a Isaac. No entanto, a narrativa de Abraão contrasta com a de Jefté. No caso de Abraão, é Deus quem o põe a prova, enquanto, no caso de Jefté, a iniciativa nunca foi de Deus. Deus claramente nunca quis o sacrifício de Isaac, muito menos o da filha de Jefté. Na verdade, o sacrifício humano é explicitamente proibido na lei mosaica. Portanto, esta história pode ser lida como muitas outras do Antigo Testamento: uma tragédia que expõe a insanidade de tentar fazer arranjos com Deus nos nossos termos, de usar Seu nome em vão ou de firmar votos sem Sua iniciativa — tudo isso equivale a tentar manipular Aquele que, em princípio, nunca deveria, nem pode ser manipulável. Isso é tão espiritualmente perigoso quanto impossível. Devemos, ao contrário, cooperar ativamente com a providência divina, sem tentar moldá-la aos nossos próprios desejos.

Material da pintura: Óleo sobre Tela

Localização: Samuel H. Kress Foundation, Nova Iorque, EUA.

Texto de Rafael Andrade Filho, Mestrando em Educação Católica e Teologia pelo Augustine Instituto, EUA. Membro da Comunidade Word on Fire Ministers. https://www.facebook.com/br.rafael.andrade

Referências:

  1. STEVENS, M. The Word on Fire Bible: The Gospels. Park Ridge: Word on Fire, 2020.

  2. GRAY, Tim; CAVINS, Jeff. Walking With God: A Journey through the Bible. Kindle Edition. Ascension Press.

  3. BARRON, Robert. The Great Story of Israel: Election, Freedom, Holiness. Edição em inglês. Editora: Word on Fire, 2022. p. 152-153

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