JUSTIFICADOS SOMENTE PELA FÉ? (Tg 2, 18-26)

"Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios creem e tremem. Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril? Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras, oferecendo o seu filho Isaac sobre o altar? Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas. Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus." (Tg 2: 18-23)

Uma vez que o apóstolo Paulo, pregando que "uma pessoa é justificada pela fé sem obras" (Rm 3:28), não foi bem compreendida por aqueles que entenderam que quando eles creram em Cristo poderiam ser salvos somente pela fé, mesmo que pudessem cometer males e viver perversa e vilmente. Tiago explica como a passagem do apóstolo Paulo deve ser entendida como tendo o mesmo significado que desta carta [Carta de Tiago]. E ainda mais, portanto, ele usa o exemplo de Abraão sobre a fé ser inútil se não resultar em boas obras, porque o apóstolo Paulo também usou o exemplo de Abraão para demonstrar que o homem é feito justo sem obras. Pois quando ele lembra as boas obras de Abraão que acompanharam sua fé, ele mostra suficientemente bem que o apóstolo Paulo não estava ensinando, pelo exemplo de Abraão, que o homem é feito justo sem obras, de maneira que qualquer um que crê [em Cristo] não teria responsabilidade de realizar boas obras. Ao mesmo tempo, por esta mesma razão, ninguém deve pensar que chegou ao dom da justiça que está na fé pelos méritos de suas boas ações anteriores.

Excerto traduzido de BEDE. Commentary on James, em: Commentary on the sevem catholic Epistles, Ed. Cistercian Publications. Kalamazoo, 1985, 30.

Tradução: Rafael Andrade Filho