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MEU FILHO JESUS

ARTIGOSCRISTOCENTRISMOPR

Carlos Carreto (1910 - 1988)

10/25/20242 min ler

"Mesmo que subsista alguma dúvida a respeito da Criação por causa das páginas obscuras que o homem escreve sobre a terra, ela se desvanece diante da beleza, da sublimidade da Encarnação de Jesus.

Valia a pena criar o mundo, ainda que somente para dar a Jesus a possibilidade de caminhar sobre ele: a terra merecia ser criada, mesmo que fosse apenas para lhe dar a possibilidade de viver e agir como ele viveu e agiu.

Eu não podia deixar de fazer a palha de que ele precisou para seu berço. Eu não podia resistir a criar o boi e o burro que o aqueceriam na noite fria de Belém.

E que dizer das estrelas? Que dizer se, entre elas, não existisse uma para testemunhar ao homem que o Filho de Deus havia nascido sobre a terra?

Eu, Deus, teria podido esquecer de criar uma mamãe como Maria?

A poesia me teria faltado!

Pensem somente na mulher chamada Maria.

Pensem nessa criatura boa, pura, doce, imaculada, que se torna o céu sobre a terra, que gera a luz, que dá corpo ao Amor, que tem um filho capaz de tornar visível sobre a terra, de fazer Deus viver no meio das casas dos homens, de nos explicar o inexplicável, de arrancar a Criação de sua solidão...

Não, eu não podia deixar de pensar nisso. O mundo merecia ser feito ainda que fosse somente para esse único homem chamado Jesus.

Eu o fiz.

Estou feliz com isso.

Jesus é minha alegria.

'Nele eu me comprazo' (Mc 1,11).

Quando criei os espinhos, eu sabia que um dia ia existir um homem que deles faria uma coroa de dor para meu filho.

Eu os fiz.

Agora que meu filho percorreu seu caminho terrestre, para vós, os homens, eu posso dizer que nada foi mais trágico que a cruz, mas também que nada foi mais belo, porque sobre esse madeiro se viveu o maior amor de um homem por seu Deus.

São bem feios os espinhos, sobretudo quando eles querem expressar uma realeza traída pelo homem. Bem dura, também, a pedra que tenta encerrar para sempre a vida no túmulo.

Mas pouco importa!

A realeza de meu filho terá outra coroa, muito diferente, a Ressurreição pulverizará todas as pedras dos sepulcros.

Eu gostaria que vocês compreendessem: Jesus explica tudo; sua vida resume tudo.

Ele é o único modelo, a chave de todos os mistérios, a luz no meio das trevas, o paraíso sobre a terra, o Reino de Deus no meio de vocês.

Eu digo a vocês: vocês têm necessidade de um espaço de liberdade para edificar a obra-prima de seu amor.

Pois bem, foi assim com Jesus. A terra foi o lugar de sua liberdade. Sua Encarnação foi o complemento da Criação. Os caminhos da Palestina lhe deram a possibilidade de caminhar, pobre e livre, em busca de Israel que ele tinha feito vir do Egito, exatamente para o encontrar e falar com ele como diz o profeta Oseias:

'Quando Israel era criança,

eu o amei.

E do Egito chamei meu filho. [...]

Eu era para ele como aquele

que levanta seu bebê contra seu rosto;

eu me debruçava sobre ele

e lhe dava de comer' (Os 11,1-4).

A Encarnação é o espaço de liberdade onde Jesus encontra o homem e Israel. [...]

Carlos Carreto foi um escritor italiano, padre católico e membro dos Irmãozinhos do Evangelho.

Excerto traduzido de CARRETO, C. “Et Dieu vit que cela était bon..." Ed. Du Cerf, Paris, 1989, p. 59-61.

Tradução de A.C. Santini.

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