
NÃO RESISTIR AO HOMEM MAU (Mt 5,38-42)
Sobre o Evangelho desta segunda-feira (17/06/2024)
OS EVANGELHOSMT 5
Sim, é exatamente isto que se lê no texto grego do primeiro Evangelho. Não se fala de uma resistência ao “mal”, ou seja, ao mal enquanto substantivo abstrato, como seria a doença, a fome, a traição. Na frase mè antistênai tô ponerô, a última palavra é um adjetivo substantivado que se refere a uma eventual “pessoa”. E em pleno Sermão da Montanha, em claro paralelo com Moisés no Sinai, o legislador Jesus está ensinando a seus discípulos (cf. Mt 5,1b).
Então, o Mestre propõe a impunidade? A neutralidade diante dos erros e pecados humanos? O caos social, impedindo a sociedade de coibir eventuais criminosos? Não.
Não devemos entender este “sermão” como filosofia de vida ou questão acadêmica, nem mesmo como uma proposta de revisão do código de direito penal. Jesus de Nazaré nos fala de uma situação vital, com exigências bem práticas e pontuais. Ele poderia dizer com outras palavras: ‘toda vingança seja absolutamente eliminada do meio de vós, mesmo com prejuízo pessoal”.
Será que o próprio Jesus de Nazaré pôs em prática o princípio que ele acaba de expor? Vejamos. Com poucos dias de vida, foi perseguido pelo rei Herodes. Ele apenas fugiu, e não mandou uma legião de querubins com espadas de fogo para fritarem o tirano. Sua pregação enfrentou a mais cerrada oposição entre os fariseus, que semearam seu caminho de arapucas para levá-lo à condenação. Pois Jesus não mandou nenhum deles para o inferno, mas chegou a atrair a simpatia de alguns deles, como Nicodemos e Gamaliel.
Um dos Doze traiu o Mestre, trocando-o por 30 moedas de prata; Jesus não esboçou nenhum gesto de resistência, mesmo sabendo das intenções do infeliz. E na cruz, cuspido, surrado e cravado no poste, Jesus roga ao Pai: “Perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Nosso arcaico conceito de justiça está atrelado ao sentimento de vingança. Por isso mesmo tantas pessoas que se julgam cristãs aprovam a pena de morte - “Matou, tem de morrer!” “Bandido bom é bandido morto! - pondo novamente em vigor a Lei de Talião - olho por olho – que Jesus acaba de revogar.
A própria História – sábia mestra! – poderia nos ensinar: a reação ao malvado costuma assumir as atitudes do malvado. Que foi a revolução comunista na Rússia? Foi uma reação ao czar e a todo o sistema que ele representava: injustiças, escravidão, privilégios da nobreza etc. Qual foi o resultado da “reação ao homem mau”? Guerra, violência, escravidão, gulags, perseguição religiosa, educação para o ateísmo etc. Parece que Jesus já tinha dado o alerta...
Em tempo: Jesus se dirige aos “discípulos”, não fala aos redatores da Constituição federal. Jesus fala para aqueles que vão assumir a missão que ele lhes delegou e, por isso mesmo, “basta para o discípulo ser como o Mestre” (Mt 10,25). E “ser como o Mestre” é perdoar, sofrer como ovelha mansa e jamais optar pela vingança.
Orai sem cessar: “Senhor Jesus, ensina-me a amar!”
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.