
NO COMEÇO NÃO ERA ASSIM... (Mc 10,2-16)
Sobre o Evangelho deste Domingo... (06/10/2024)
É permitido separar-se da esposa? Foi a pergunta direta dos fariseus ao Mestre de Nazaré. E como argumento que validasse o divórcio, eles lembraram o “libellum” (um atestado no papel) permitido por Moisés. E Jesus explica imediatamente o que está na raiz dessa atitude: “Foi por causa da dureza do vosso coração...”
O divórcio no papel apenas confirma um divórcio no coração. Na etimologia da palavra “divórcio” está um “desvio do caminho”. O rumo era outro, mas alguém se “desviou”. Desviou o olhar para outra pessoa. Desviou o tempo para outra atividade. Desviou o amor para objetos, para o dinheiro, para a carreira profissional, para os próprios interesses. Desviou-se dos filhos, desviou-se do primeiro amor...
Para avaliar corretamente a questão da separação dos casais, Jesus Cristo tem um critério definitivo: “No começo não era assim”. Claro que o Mestre se refere ao desígnio do Criador para o homem e a mulher. Na base de tudo, “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18). Se o próprio Deus é família, um Deus em três Pessoas, também o homem é chamado à convivência. À alteridade. Ao amor.
Daí, a “sentença” sem apelação de Jesus: “O que Deus uniu, o homem não separe!” Alguém diria que a realidade é outra, o mundo mudou e tal doutrina já está defasada. Frei Raniero Cantalamessa, hoje cardeal, retruca: “Deixar de falar neste caso (o divórcio) porque o assunto se tornou inflamado, seria frustrar o Evangelho. Ter já superado (com o plebiscito) o problema legal, permite-nos talvez entender mais a fundo o Evangelho e falar dele mais livremente, e com mais coragem”.
Divórcio não se reduz apenas a uma fria questão jurídica. São promessas rompidas. São filhos rasgados ao meio. São ideais abandonados no lixo. São sonhos sufocados. São sementes de ódio, de ressentimento, de amargura. São aquelas inúmeras possibilidades que jamais irão realizar-se. Caminhos bloqueados...
Curiosamente, quando nós erramos ou nos prostituímos, Deus não se divorcia de nós. Ele sempre perdoa. Volta de novo o seu rosto para nós. Sua aliança é eterna...
Orai sem cessar: “O Senhor se lembra para sempre de sua aliança!” (Sl 105,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.

