priest standing beside altar

NÓS PRECISAMOS DO CORRETO LOUVOR (Ex 40)

ARTIGOSLEITURAS DA LITURGIAÊXODOPRTEOLOGIA

Bispo Robert Barron (1959-)

Depois de ler esses textos detalhados e longos do livro do Êxodo sobre a decoração, os móveis e as atividades do tabernáculo, talvez nos perguntemos qual seria realmente o objetivo de tudo aquilo. Como pessoas influenciadas pelo pensamento pós-kantiano, podemos achar que [apenas] o comportamento moral correto deve sempre acompanhar a nossa crença em Deus. Então será que toda essa parte de rituais, cerimônias e decorações realmente é tão necessária assim?

Tomás de Aquino, que escreveu bastante sobre o que ele chama de preceitos cerimoniais da Lei Antiga, responderia que sim, que tudo isso é importante. É interessante ver como ele explica, mesmo diante de uma objeção comum, por que esses rituais existem. Na questão 102 da prima secunda da sua obra, a Summa Theologiae, Tomás analisa essa questão. Para alguém que diga que não há motivo suficiente para essas leis cerimoniais, Tomás explica que o culto a Deus tem dois objetivos principais: o Deus que é adorado e os seres humanos que oferecem essa adoração.

No que diz respeito a Deus, ele explica que não há necessidade de um lugar específico ou de exibições litúrgicas, porque Deus é imaterial, ou seja, não está preso a nenhum espaço físico. O tabernáculo, portanto, não é a morada física de Deus. Para mostrar isso, Tomás cita o Rei Salomão, que declara na Bíblia que Deus, mesmo o céu, não pode ser contido em qualquer lugar na Terra — nem na casa que Salomão construiu: "Mas será que Deus habitará realmente na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem te conter, muito menos esta casa que eu construí" (1 Reis 8:27).

Por outro lado, no que se refere ao povo de Israel, é preciso um lugar especial, como o tabernáculo ou o templo, para adorar a Deus, porque os seres humanos têm corpo e sentidos físicos. E, de acordo com o princípio bíblico, precisamos de um louvor que seja feito de forma física, corporal, para que a nossa adoração não se torne algo abstrato. Tomás faz uma observação interessante nesse ponto: apesar de afirmar que Deus, sendo uma essência espiritual, não pode ficar preso a um espaço físico na terra, ele também diz que o tabernáculo é o lugar onde o nome de Deus é especialmente reverenciado. Ele cita o Rei Salomão novamente, que chama o templo de o lugar onde Deus disse: "Meu nome estará ali" (1 Reis 8:29). E conclui que o templo foi criado, não para Deus habitar ali de forma literal, mas para que o povo pudesse reconhecer e venerar Deus por meio das ações e palavras que ali aconteciam.

Tomás faz uma última explicação, apoiada na revelação de Cristo como o verdadeiro Templo e o lugar do culto verdadeiro (João 2:13-22). Quando entendemos que Jesus é a própria forma correta de unir Deus e o homem, podemos compreender que tudo o que acontecia no tabernáculo — as práticas, os objetos, as decorações e os sacrifícios — eram uma espécie de preparação para o sacrifício perfeito de Jesus na cruz. Luz, pão, altar, sangue, sacerdócio, véu do templo — tudo isso aparece nos relatos da morte de Jesus nos Evangelhos.

O livro de Êxodo termina falando de uma nuvem de glória de Deus que cobre a tenda do encontro, o lugar onde Deus fala com Moisés. Essa mesma imagem aparece em 1 Reis, na dedicação do grande templo, quando a presença de Deus é mostrada por uma fumaça espessa que enche o templo. Mais uma vez, o verdadeiro Deus, embora presente de forma real e palpável, nunca pode ser completamente visto com nossos olhos ou controlado por nossas ideias. A fumaça, o incenso usado nas liturgias católicas e ortodoxas até hoje, apontam para essa mesma ideia: que Deus é ao mesmo tempo presente e invisível, que ultrapassa a nossa compreensão.

Quando a nuvem sobe do templo, é um sinal para o povo de Israel de que é hora de partir. Afinal, o tema aqui é uma tenda, não um edifício fixo, pronta para ser desmontada. Assim, o povo vagueia pelo deserto até encontrar sua terra de verdade, vivendo sempre em esperança de um lugar definitivo. Seguindo a nuvem, Israel vai encontrando seu caminho para adorar a Deus de maneira verdadeira e correta, como ficou claro nas últimas partes do livro de Êxodo.

Excerto traduzido e adaptado do livro: BARRON, Robert. The Great Story of Israel: Election, Freedom, Holiness. Edição em inglês. Editora: Word on Fire, 2022. p. 73-75
Seleção, adaptação e Tradução: Rafael Andrade Filho

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