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O CAMELO NO BURACO DA AGULHA (Mt 19,23-30)

Sobre o Evangelho desta terça-feira (20/08/2024)

OS EVANGELHOSMT 19

Antonio Carlos Santini

8/20/20242 min ler

Um divertido ensinamento de Jesus: vocês querem salvar-se? Então, sejam como um camelo que passa pelo furo de uma agulha. Para desgosto e incômodo de especialistas que tentam reduzir ou reinterpretar as palavras do Mestre, estamos diante de uma evidência: Jesus escolheu exatamente o maior animal da Palestina – o camelo – e o menor buraco da época – o furo de uma agulha. Mais uma vez, o Mestre apoia seus ensinamentos em coisas do dia a dia de seus ouvintes.

Para que ele fez isto? Ora, para deixar bem claro que a salvação não é de modo algum uma conquista humana. Não será por nossos méritos acumulados, nem sangue, nem suor, nem mangas arregaçadas, que conseguiremos passar pelo “furo da agulha”. Ou Deus nos dá a salvação – pura graça – ou estamos condenados... Curiosamente, muitos honestos ficam incomodados com a descoberta. Os santos, ao contrário, ficam felizes: “Graças a Deus! Não depende de mim! É puro dom!”

Assim comenta Helmut Gollwitzer: “Do ponto de vista humano, a questão da vida eterna acabaria em uma derrota, batendo de frente com o muro deste ‘impossível’! O destino ou as condições humanas desfavoráveis da existência humana nada podem fazer diante deste fracasso: a impossibilidade em questão é ainda mais grave. A derrota do homem provém da escravidão a que seu próprio eu o acorrenta. Assim ele fecha para si mesmo o caminho da vida eterna”.

Então, nós estamos perdidos? Não, de modo algum. O impossível humano é possível para Deus (Mt 19,26). “Aquilo que a Lei não podia fazer - comenta Gollwitzer – Deus o realizou enviando-nos o seu próprio Filho. Tendo o homem fracassado diante dos mandamentos, Deus retoma em suas mãos a obra da salvação. Doravante, fica esclarecido o sentido da Graça.”

Então, não é preciso o meu esforço? Precisa, sim... Se colaboramos, facilitamos a obra de Deus. Ganhar o Reino supõe, no começo, a perda e o abandono, diz o mesmo autor. Deixar a casa, os irmãos, os pais, a mulher e os filhos. Mas esta renúncia é apenas o início, não o fim. É assim que os olhos dos discípulos, apegados às coisas deste mundo, são orientados para o eon que vem.

O mundo passa. Jesus não passa. Sem dúvida, deixar pelo caminho os pesados fardos acumulados pela vida a fora ajudará o camelo a transpor o caminho estreito. E o buraco da agulha se abrirá àquele que abandonou o supérfluo para receber – gratuitamente – o único necessário: o próprio Senhor dos impossíveis...

Orai sem cessar: “O Senhor resgata a vida de seus servos!” (Sl 34,23)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Imagem de Capa

Auto Retrato Com Símbolos da Vaidade

David Bailly / Holanda / 1651

Material: óleo sobre Tela

Dimensões: 65 x 97 cm

Localização Atual: Museu de Likenhal, Leiden , Holanda.

A caveira da pintura significa que todas as vaidades e prazeres desta vida são fugazes.