
"O DEUS DOS VIVO." (Mc12,18-27)
Sobre o Evangelho desta quarta-feira (05/06/2024)
OS EVANGELHOS
Para o mundo pagão, tudo acaba com a morte. Nada sobrevive além do tempo, além da história. Nem mesmo faz sentido um funeral religioso, a celebração das exéquias, pois já não sobra nada da pessoa que se foi.
Não deixa de ser estranho que mesmo no povo de Israel, herdeiro das promessas de Yahweh, existisse um grupo como o dos saduceus, que não acreditavam na ressurreição, ainda que o sacerdócio judaico estivesse sob o controle deles. Mas explica que fossem tão aferrados ao poder temporal e dessem tanta importância ao dinheiro. Só a fé na ressureição permite uma vida livre e leve, desapegada dos bens materiais, exatamente aqueles que não nos acompanham na ressurreição.
E são eles mesmos, os saduceus, que apresentam a Jesus a fábula da mulher que tivera sucessivamente sete maridos (todos eles irmãos!) e, ironicamente, querem saber do Mestre com qual dos sete finados ela iria viver como esposa após a morte, caso existisse mesmo a tal ressurreição...
E o Mestre a responder: “Estais errados!” Talvez a única passagem dos Evangelhos em que Jesus faz de modo tão incisivo uma acusação desta ordem: não crer na ressurreição é um erro grave. E logo passa a mostrar que casamento e procriação são realidades temporais, históricas, quando é preciso gerar filhos e descendentes, realidades já sem sentido do outro lado da morte, quando seremos “como anjos no céu” (Mc 12,25).
Mas o principal vem a seguir: Deus não é Deus dos mortos! O Deus de Abraão, Isaac e Jacó (três gerações subsequentes!) é o mesmo Deus. A amizade entre Deus e Abraão não se interrompe quando este morre. O Deus em quem Jacó aposta sua vida não é um Deus diferente do Deus de seu pai. Estamos todos em relação permanente com o Senhor, antes da morte e depois da morte, essa impostora que não tem poder de interromper nossa relação com o Criador e Pai.
Em um sermão para o Sábado Santo, Agostinho de Hipona ensina: “Quando Deus diz: ‘Eu sou aquele que sou’, ele não acrescenta de imediato: ‘Eis o meu nome para a eternidade’. De fato, ninguém duvida disso, pois aquele que é, é porque é eterno. Mas quando ele diz: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’, ele acrescenta: ‘Eis o meu nome para a eternidade’. (Ex 3,15) É como se ele dissesse: ‘Por que temes a morte do homem? Por que tu haverias de temer já não ser mais depois da morte? Eis o meu nome para a eternidade. E este nome: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó não poderia ser eterno se Abraão, Isaac e Jacó não vivessem eternamente”.
Orai sem cessar: “A multidão dos que dormem acordará...” (Dn 12,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.