O SENHOR DO SÁBADO... (Mt 12,1-8)

Sobre o Evangelho desta sexta-feira (19/07/2024)

OS EVANGELHOSMT 12

Antonio Carlos Santini

7/19/20242 min ler

Antes de passar à crítica (necessária) aos acusadores fariseus, é indispensável recordar o significado do Shabbat para um judeu observante da Lei. Com base no ritmo da Criação (cf. Gn 2,1-3), o sábado judaico era um dia santificado (isto é, “separado”) pelo Criador para que o homem não se esquecesse de sua condição humana, marcada pelo dom da liberdade, e não assumisse uma condição de escravo. Assim como aquela gente que vive uma semana toda feita de “feiras”: segunda-feira, terceira-feira, quarta-feira – quando todos os dias são dias de feira, ou seja, tempo de comprar e vender, de carregar os fardos das mercadorias, de cavar a terra e colher as espigas, debaixo do chicote do deus Mercado...

Em suma, falar do shabbat é falar de liberdade. Infelizmente, a atitude destes fariseus do Evangelho deixa claro que o sentido profundo do sábado estava sepultado sob uma tonelada de formalismo e do mais frio legalismo. Foi preciso que Jesus lembrasse a hierarquia do início: o homem não foi feito para o sábado; ao contrário, o sábado é que foi feito para o homem (cf. Mc 2,27).

Mas o mais importante está na afirmativa de Jesus: ele é Senhor do sábado. Helmut Gollwitzer comenta com fino olhar: “O Filho do homem é também o Senhor do sábado (cf. Lc 6,5). As disposições da Lei não ligam o legislador, mas somente os subordinados. Elas dirigem os subordinados para seu Senhor. ‘Ali onde está o Senhor, ali está a liberdade.’ Assim, doravante, a Lei pertence apenas ao domínio da PREPARAÇÃO ‘pedagógica’ para conduzir até Cristo (cf. Gl 3,23ss). ‘Ali onde está o Espírito do Senhor, ali está a liberdade’ (2Cor 3,17)”.

Sim, diz o biblista alemão, disposições legais cedem espaço à liberdade no Espírito, e a confiança no Senhor (de tudo, inclusive dos sábados...) substitui os preceitos da Lei. Mas, cuidado: “Os discípulos não são desviados por Jesus da obediência à vontade divina, como estavam pensando os fariseus; ao contrário, são dispostos em uma obediência ainda mais íntima”.

O verdadeiro seguidor de Jesus não pode dar-se por satisfeito com certos cumprimentos legais: vou a missa aos domingos, dou uma esmolinha na coleta, faço a “desobriga” anual e... é suficiente. Não!!! O discípulo fiel vive na atenta escuta da voz interior, do sopro do Espírito que atua em sua consciência, como vela aberta ao Vento, pronto a se deslocar conforme a moção do alto.

- Senhor, que queres que eu faça? Faça-se em mim segundo a tua Palavra! Ensina-me a cumprir a tua vontade!

Orai sem cessar: “Mostra-me, Senhor, a estrada que devo seguir!” (Sl 143, 8b)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Imagem de Capa:

Os Peregrinos de Emaús / Rembrandt / 1660

Óleo em Tela.

Dimensões: 50 x 64 cm

Louvre, França