
O TERRÍVEL SIM DE PEDRO (Jo 13, 1-9)
PRJO 13OS EVANGELHOS
Hans Urs von Balthasar (1905-1988)
O que João quer que entendamos aqui é que esse Sim, que é extraído de Pedro, é algo terrível para ele. Pedro é muitas vezes chamado a saltar sobre a própria sombra, e aqui isto acontece mais uma vez numa espécie de desespero de amor que não pode fazer outra coisa:
"Senhor, não só os meus pés, mas também as minhas mãos e a minha cabeça!"
Excerto traduzindo de BALTHASAR, Hans Urs von. Explorations in Theology: Creator Spirit, Kindle Edition, 2013. p 220-221. Seleção e Tradução: Rafael Andrade Filho
"Durante a ceia, quando já o diabo colocara no coração” de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo, sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz: “Senhor, tu, lavar-me os pés?!” Respondeu-lhe Jesus: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde”. 8Disse-lhe Pedro: “Jamais me lavarás os pés!” Jesus respondeu-lhe: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. 9Simão Pedro lhe disse: “Senhor, não apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. ”. (Jo 13, 2-9)
O diálogo com Pedro começa com o seu mais profundo choque:
"Senhor, tu vais lavar-me os pés?"
Isso é totalmente impróprio, pois vira de cabeça para baixo toda ordem humana de posição, e isso em toda a extensão, uma vez que nem mesmo um israelita livre, muito menos o "Senhor e Mestre" poderia receber a tarefa de lavar os pés de alguém, mas apenas um escravo.
A resposta de Jesus não dá nenhuma explicação, mas apenas confirma a incompreensibilidade do momento.
“Não sabeis agora o que faço, mas depois compreendereis”
[depois da ressurreição e do envio do Espírito que interpreta isto]
Pedro deve pronunciar seu Sim in persona Ecclesiae [na pessoa da Igreja], em um estado de incompreensão, em pura obediência... na verdade, mais do que isso, na confusão de um elemental recuando em terror, um terror que é expresso na segunda declaração de Pedro:
"Você nunca vai lavar meus pés."
Em outras palavras: isso é o que eu nunca posso permitir em nenhuma circunstância. Por que? Porque isso significa o colapso da ordem religiosa total e de valores do homem natural. Deus está acima, o homem está abaixo. O santo está em cima, o pecador está embaixo
A única coisa que importa agora é a conditio sine qua non [a condição necessária]: deixar que isso aconteça em estado de terror e incompreensão. É por isso que Jesus obriga Pedro a dizer sim.
A liberdade de dizer não é algo puramente abstrato para o crente, ou seja, para aquele que ama; se o que ele quer é o amor, a comunhão com Jesus, então ele deve querer o que ele mesmo não quer: a inversão da ordem do mundo, o serviço do Senhor como escravo. E é pior do que isso, porque se trata, afinal, da sujeira nos pés de Pedro: aquele que é totalmente puro leva o pecado sobre si mesmo.
"A liberdade de dizer não é algo puramente abstrato para o crente, ou seja, para aquele que ama; se o que ele quer é o amor, a comunhão com Jesus, então ele deve querer o que ele mesmo não quer: a inversão da ordem do mundo, o serviço do Senhor como escravo."
A QUEDA DA BABILÔNIA
Ciro, o Grande, derrotando o exército babilônico / 1831 / John Martin
O Zigurate ao fundo, sob um céu escuro e tempestuoso, com multidões em perigo

