a group of people holding hands

OS DOIS TIPOS DE OBRAS (Tg 2, 8-26)

Sobre a Liturgia desta quinta-feira (18/09/2024)

LEITURAS DA LITURGIATG 2RESPOSTAS CATÓLICASPRJUSTIFICAÇÃO

São João Henry Newman (1801 - 1890)

9/22/20243 min ler

São Paulo diz, somos justificados sem obras; [mas] que obras? Obras da, ou feitas sob "a lei" (Rm 3:28) a Lei de Moisés, por meio da qual a lei da natureza falava aos ouvidos dos judeus. Mas São Tiago fala de obras feitas sob o que ele chama de "a lei real", "a lei da liberdade", que aprendemos com São Paulo que é "a lei do Espírito da vida" (Rm 8:2), pois "onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2 Cor. 3:17); em outras palavras, a Lei de Deus escrita no coração pelo Espírito Santo. São Paulo fala de obras feitas sob a lei, São Tiago de obras feitas sob o Espírito. Esta é certamente uma diferença importante nas obras respectivamente mencionadas.

Ou, para dizer a mesma coisa de outra forma: São Tiago fala, não de meras obras, mas de obras de fé, de obras boas e aceitáveis. Não suponho que alguém conteste isso e, portanto, deve tomá-lo como certo. São Tiago então diz: somos justificados, não apenas pela fé, mas por boas obras. Agora, São Paulo não está falando de boas obras, mas de obras feitas na carne, e de si mesmas "merecedoras da ira e condenação de Deus". Ele diz: "sem obras" (Rm 4:5); ele não diz sem boas obras; enquanto São Tiago está falando apenas delas [obras boas]. São Paulo fala de "obras feitas antes da graça de Cristo e da inspiração de seu Espírito"; São Tiago de "boas obras que são frutos da fé". A fé pode justificar sem aquelas obras [referidas por Paulo]... e ainda assim, não sem estas obras [referidas por Tiago] que são agradáveis e aceitáveis a Deus em Cristo.

Agora, como prova dessa distinção, basta observar que São Paulo nunca chama aquelas obras que ele diz que não justificam de "boas obras", mas simplesmente "obras", "obras da lei", "obras prescritas pela lei", "obras de justiça", "obras mortas" - o que isso tem a ver com obras ou frutos do Espírito? Destas também São Paulo fala em outros lugares, e por um contraste notável ele as chama repetidamente de "boas obras". Por exemplo; "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, não [como] o resultado de obras, para que ninguém se glorie. Porque somos o que ele nos fez, criados em Cristo Jesus para boas obras" (Ef 2, 8-10). Esta certamente é uma sugestão muito direta de que as obras que não justificam, não são boas, ou em outras palavras, são obras antes da justificação. Quanto às obras posteriores, que são boas, se elas justificam ou não, ele não decide tão expressamente quanto São Tiago... [São Paulo] apenas diz, contra os mestres judaizantes, que nossas obras devem começar, continuar e terminar em fé. Mas para prosseguir; ele fala em outro lugar de participar "abundantemente em toda boa obra" (2Co 9,8), de ser "frutífero em toda boa obra" (Cl 1:10), de ser adornado "com boas obras" (2Tm 2:10), de ser "atestado por . . . boas obras" (1Tm 5,10), de "boas obras [que] são visíveis" (1Tm 5,25), de ser "rico em boas obras" (1Tm 6,18), de estar "pronto para toda boa obra" (2Tm 2,21), de ser "habilitado para toda boa obra" (2Tm 3,1-7), de "não serem capazes de fazer qualquer boa obra" (Tt 1,16), de ser "modelo de boas obras" (Tt 2,7), de estar "pronto para toda boa obra" (Tt 3,1), de ter "o cuidado de se dedicar às boas obras" (Tt 3,8)...

Agora, certamente isso é muito notável. São Tiago, embora queira dizer boas obras, abandona o 'sobrenome' e apenas diz obras? Por que São Paulo não faz o mesmo? Por que ele sempre tem o cuidado de acrescentar a palavra boa, porque ele estava envolvido com um tipo de obras com as quais São Tiago não estava - porque a palavra obras já era apropriada por ele para designar as [obras] da Lei e que, portanto, o sobrenome 'boas' era necessário para que as ações feitas no Espírito não fossem confundidas com as da lei.

São Paulo, então, ao falar da fé justificando sem obras, quer dizer sem obras corruptas e falsificadas, não sem boas obras. Ele não nega o que São Tiago afirma, que somos justificados nestas últimas.

Excerto traduzido de NEWMAN. J, H. Lectures on Justification. Ed. J.G.&F Rivington. Londres, 1838, p 330-333.

Tradução: Rafael Andrade Filho