
PELA UNDÉCIMA HORA (Mt 20,1-16a)
Sobre o Evangelho desta quarta-feira (20/08/2024)
OS EVANGELHOSMT 20
Jesus Cristo sabia muito bem da importância do tempo em nossa vida. Foi ele mesmo quem disse: “Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar”. (Jo 9,4)
Ora, o dia de trabalho, na Palestina daquela época, contava-se das 6 às 18 horas. Da hora prima à duodécima. No Evangelho de hoje, alguns operários começam sua labuta bem cedo, logo ao raiar do sol. Outros chegam à vinha somente por volta da hora terceira, as 9 da manhã. Outros ainda ao meio-dia, a hora sexta, já com o sol a pino. Alguns, finalmente, são contratados às três da tarde, à hora nona. E alguns – vejam só! – vagabundeando pela praça da aldeia, ainda receberam do Patrão a oportunidade de iniciar seu trabalho na undécima hora – às 5 da tarde!
Mas o espanto cresce quando, na hora do acerto de contas, aqueles que chegaram por último não só recebem o mesmo que os demais (um denário), mas o recebem antes dos outros. Diante disso, temos no mínimo duas reações possíveis: acusar o Patrão de injustiça ou... admirar sua incompreensível misericórdia!
Obviamente, os eleitos, no céu, não sentirão ciúme com a chegada de mais um pecador redimido. Não irão reclamar, apoiados em seu sindicato, da falta de isonomia salarial da parte do Senhor, alegando que os retardatários mereciam salário menor. Ao contrário, esses bem-aventurados hão de alegrar-se com a amplitude do coração de Deus, que é, em suma, o outro nome do céu. E hão de fazer uma bela acolhida aos recém-chegados, ao som de um salmo de boas-vindas...
Quanto a nós, aqui na terra, o que nos interessa é bem outra coisa. É saber que eu posso, ainda hoje - mesmo tendo perdido tantas oportunidades anteriores - atender ao chamado de Jesus e começar a trabalhar em sua vinha... Posso ter desperdiçado muito tempo. Posso mesmo ter caído no fundo do poço. Posso ter vivido na ilusão das luzes pálidas do mundo. Mas ainda é tempo – mesmo na undécima hora – de acolher o amor do Pai e experimentar os tesouros de seu amor.
Enfim, vale a pena recordar as palavras comoventes de Santo Agostinho e, quem sabe, tomar posse delas intimamente: “Tarde te amei, Beleza infinita! Tarde te encontrei, tarde te amei, Beleza tão antiga e sempre nova! Eis que habitavas dentro de mim e eu te buscava do lado de fora... Tu me chamaste, e teu grito rompeu minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou minha cegueira... Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz”. (Confissões X,27)
Orai sem cessar: “Senhor, os meus tempos estão nas tuas mãos!” (Sl 31,16)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.


Imagem de Capa
AS RESPIGADORAS [Des Glaneuses]
Jean-François Millet / França / 1857
Material: óleo sobre Tela
Dimensões: 83 x 110 cm
Localização Atual: Museu de Orçais, Paris, França.
"Respigadoras" é um termo que refere-se à pessoas que apanham espigas de trigo e arroz que sobram após a colheita.