
QUEM SERIA O MAIOR? (Lc 9,46-50)
Sobre o Evangelho desta segunda-feira... (30/09/2024)
Quando percebemos que Deus nos chama e nos cobre de graças, corremos o risco de nos sentirmos “especiais”, diferentes, melhores que o... resto. Afinal, fomos alvo de uma escolha de Deus! Estamos diante de um sério risco: aquele desejo natural, sempre fermentando em nosso íntimo, de ocupar o primeiro lugar e nos tornarmos o centro de atenções, aplausos e veneração. Muitos “servidores” de Deus foram abatidos por esse desejo.
Para Garrigou-Lagrange, “os adiantados, sem o perceberem, inflam-se de orgulho espiritual e de presunção e assim se afastam da simplicidade, da humildade e da pureza exigidas para a união íntima com Deus. ‘Eles até podem, diz São João da Cruz, endurecer-se com o tempo a tal ponto, que seu regresso à virtude simples e ao verdadeiro espírito de piedade é bastante duvidoso.’”
Como recorda Helmut Gollwitzer, “o culto do eu é muito inerente à natureza humana para que os discípulos de Jesus fossem preservados dele”. Bem no fundo do homem, as sequelas do pecado original, aquele salto ilusório além dos próprios limites da criatura, seduzida com a promessa de “serem como deuses” (cf. Gn 3,5).
Estrada afora, os escolhidos de Jesus discutem sobre o grau de destaque e de elevação que iriam merecer com a implantação do Reino. Tristes ministros! Mal sabiam que o Reino incluía a Paixão, e que o trono do Rei seria a Cruz...
Por isso mesmo, Jesus de Nazaré se apressa a lhes apresentar um novo critério de avaliação das pessoas. Diante dele, diz Gollwitzer, todo poderio é quebrado. E Jesus se vale de uma imagem bem concreta para demonstrá-lo: abraça uma criança, isto é, um pequenino que os adultos não levam em conta, para acenar com o ideal dos que entram no Reino: nenhuma intenção, nenhuma preocupação com o destaque pessoal e nenhum valor próprio a ser destacado.
“Ao receber essa criança em sua fraqueza, os discípulos cessam obrigatoriamente de pensar em si mesmos e em seus próprios interesses. Renunciam ao orgulho de sua dignidade e de sua conduta que envenenam a piedade farisaica, pois Deus irrompeu na vida deles. Toda noção de grandeza é aniquilada.” O verdadeiro seguidor de Jesus sabe de seus pecados. Reconhece o estado de miséria em que foi encontrado. Percebe que todo bem nele existente resulta dos próprios dons recebidos sem mérito algum de sua parte.
Orai sem cessar: “Eu me acalmo como criança desmamada no colo da mãe...” (Sl 131,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
IMAGEM DE CAPA:
Estátua de Jesus Assis no meio de duas crianças, na Virgínia, EUA.

