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SEREIS FILHOS DO ALTÍSSIMO... (Lc 6,27-38)

OS EVANGELHOSLC 6

Antonio Carlos Santini

2/23/20253 min ler

É costume falar em abraços cordiais e ódios figadais. O amigo é do coração (cordial), o inimigo é do fígado (figadal). Amamos com o coração, odiamos com o fígado. Há pessoas amorosas e tipos biliosos... E se examinamos a anatomia do tronco, vemos o coração a poucos centímetros do fígado: amor e ódio parecem vizinhos de quarto...

Se, por um lado, este Evangelho nos apresenta algo exclusivo da mensagem cristã – amar os inimigos -, nem por isso deixa de gerar reações de desconfiança (será mesmo?) ou de reservas (não é bem assim...). Essa história de “oferecer a outra face” tem cada vez menos simpatizantes.

E bem poderíamos tomar a tesoura e recortar esta página do Evangelho como imprópria ao nosso tempo, mas teríamos de jogar no lixo, igualmente, o exemplo de Jesus crucificado (Lc 23,34) e de Estêvão lapidado (AT 7,60), quando rezaram: “Perdoai-os, eles não sabem o que fazem”.

A palavra “amigo” nos vem do verbo amar, na mesma família de amável, amistoso. O termo “inimigo” traz o prefixo de negação -in, denotando a ausência do amor. Pena que se pense em “amor” apenas em termos de sentimentos, simpatias, identificação, excluindo de todo a participação da vontade, da compaixão e da misericórdia.

Ora, o cristão é interpelado a amar por outros motivos. Não é mera questão de simpatia ou aversão. O cristão ama porque... foi amado... Daí a lição de Jesus, ao afirmar que “assim” (isto é, deste modo) seremos filhos de Deus, ou seja, da mesma raça e com as mesmas atitudes.

“O cristão entreviu o Amor de Deus, ele acreditou nesse Amor, abandonou-se a esse Amor. Ele sabe o que significa a misericórdia e ter sido renovado por ela, re-criado até o mais profundo de seu ser. Ele era pecador, com uma dívida impagável diante de Deus, mas subitamente, antes mesmo de se dar conta, encontrou-se nos braços da misericórdia”.

Estas palavras são do abade trapista André Louf, mas têm ressonâncias profundas na pregação dos apóstolos. “A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8). Ora, se fomos perdoados sem nenhum merecimento de nossa parte, por que iríamos esperar que o inimigo merecesse nosso perdão? Sem a moeda do perdão dado, jamais reduziremos a dívida do perdão recebido.

Orai sem cessar: “Tu és bom, Senhor, e pronto a perdoar...” (Sl 86,5)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Leitura do Evangelho de São Lucas, Cap. 6, 27-38

O amor aos inimigos —27Eu, porém, vos digo a vós que me escutais: Amai os vossosinimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, 28bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam. 29A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te arrebatar a capa, não recuses a túnica. 30Dá a quem te pedir e não reclames de quem tomar o que é teu. 31Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. 32Se amais os que vos amam, que graça alcançais? Pois até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. 33E se fazeis o bem aos que vo-lo fazem, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores agem assim! 34E se emprestais àqueles de quem esperais receber, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores para receberem o equivalente. 35Muito pelo contrário, amai vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, pois ele é bom para com os ingratos e com os maus.

Misericórdia e gratuidade —36Sede misericordiosos como o vosso Pai émisericordioso. 37Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado. 38Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também”.

Texto da Bíblia de Jerusalém.

Escute a reflexão no vídeo abaixo

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