TEMPO DE MISSÃO

ARTIGOSCATEQUESEEVANGELIZAÇÃOPR

Antonio Carlos Santini

10/7/20253 min ler

Nunca me esqueço do primeiro missionário que encontrei. No primeiro semestre de 1955, interno no Ginásio São José, dos Padres de Bétharram, em Conceição do Rio Verde, MG, recebemos a visita de um sacerdote que passara longos anos ao sul da China, na província do Yu-Nan. Com a chegada das tropas comunistas de Mao-Tse-Tung, em 1948, a região viu-se inflamada de ódio e chamas, as igrejas profanadas, os cristãos perseguidos. Os padres europeus foram obrigados a fugir e separar-se de seu rebanho.

Não me lembro do nome do missionário (seria o Pe. Firmino Etchaide?), magro, longas barbas, olhos profundos. Nossa infância como alguém caído de outro planeta. Mas ele não deixava transparecer qualquer mágoa, falou-nos apenas de coisas alegres, fazendo rir maiores e menores no grande salão de estudo.

Todo mês de outubro, nós trabalhávamos recolhendo fundos para as missões, selos de correio e dinheiro vivo. A turma que mais arrecadasse era premiada pela direção da escola.

Descobri em meus arquivos empoeirados o jornal “Avante”, nº 8, de setembro/outubro de 1958. Logo na capa, o poema “O Missionário”, que publiquei aos 14 anos de idade. As primeiras estrofes cantavam:

Desfraldam-se as velas da nau

Vogando no tempo tão mau,

Pois ruge a feroz tempestade.

Estronda o trovão, fremem vagas,

Mas, eis: vem de mui longes plagas

Um anjo da fiel caridade!

No porto, manhã nebulosa,

Inda fica a imagem chorosa

De sua mãe que muito o queria.

Senhor! Que almas belas e santas!

E com teu amor os encantas...

São filhos da Virgem Maria!

É bom recordar o saudoso Papa João Paulo II: “Nos tempos modernos, a atividade missionária desenvolveu-se sobretudo em regiões isoladas, longe dos centros civilizados e inacessíveis por dificuldades de comunicação, de língua e clima. Talvez hoje a imagem da missão ad gentes esteja mudando: lugares privilegiados deveriam ser as grandes cidades, onde surgem novos costumes e modelos de vida, novas formas de cultura e comunicação que depois influem na população. [...] Não é possível evangelizar as pessoas ou pequenos grupos, descuidando os centros onde nasce – pode-se dizer – uma nova humanidade, com novos modelos de desenvolvimento. O futuro das jovens nações está a se formar nas cidades”. (Redemptoris Missio, 37)

Naquela época, o jovem poeta de Conceição do Rio Verde não podia prever que ele mesmo seria um missionário em sua própria terra. Depois de quase 400 viagens missionária, desde as palafitas de Marabá aos canaviais de Irapuã. Das praias de Fortaleza às montanhas de S. José do Vale do Rio Preto, a missão deu sentido à minha vida. Em vez dos antigos navios de madeira e das velas desfraldadas no mar, os confortáveis ônibus interestaduais e as turbinas ululantes do Airbus.

Mas o Cristo é sempre o mesmo. E a Igreja fiel segue adiante.

(Do livro “Caminhos da Missão”, Ed. O Lutador / Com. Nova Aliança, Belo Horizonte, 2007.)

Era esta a imagem idealizada que fazíamos do missionário. A missão era... longe. Começava por atravessar o oceano, deixar pátria e família, idioma e cultura, lançando-se ao desconhecido. Quase cinquenta anos depois, aprendemos que a missão está aqui, pertinho de nós. Nosso país é terra de missão. Nossa rua é terra de missão. A poucos metros de nossa casa estão os pagãos, os gentios, a multidão que não conhece Jesus Cristo e ainda não descobriu que Deus é Pai.