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TESTEMUNHAS DO BATISMO INFANTIL

Como o batismo de infantes foi entendido e professado pelos primeiros cristãos e pelos Padres da Igreja.

Rafael Andrade Filho

7/3/2025

O batismo infantil é o sacramento pelo qual as crianças que ainda não atingiram a idade da razão são enxertadas no corpo de Cristo (a Igreja), adotadas pelo Pai, Configuradas ao Filho e habitadas pelo Espírito Santo. O Batismo Infantil também remove os efeitos e a mancha do Pecado Original, ao mesmo tempo que infunde a Graça Santificante na alma do bebê, conforme citado no CIC nº 1250.

“Nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, as crianças também têm necessidade do novo nascimento no Batismo para serem libertas do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus (44), a que todos os homens são chamados. A pura gratuidade da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o Baptismo pouco depois do seu nascimento.”

O sacramento do Batismo infantil possui fundamentos bíblicos e pode ser rastreado até os tempos apostólicos, o que é mencionado explicitamente já no século II.

Quem foram os primeiros a serem batizados?

Para compreender as origens e o histórico do Batismo Infantil, é importante entender quem eram os destinatários originais da Nova Aliança. Nos primeiros anos do cristianismo, os membros da Igreja eram os judeus. Os judeus praticavam a circuncisão infantil, conforme ordenado a Abraão (Gn 17, 12), reafirmado na Lei Mosaica (Lv 12, 3) e demonstrado pela circuncisão de Jesus no oitavo dia (Lc 2, 21). Sem circuncisão, nenhum homem podia participar das atividades culturais e religiosas de Israel. O rito da circuncisão, que era a porta de entrada para a Antiga Aliança, foi substituído na Nova Aliança pelo Batismo — ambos aplicados a crianças. São Paulo faz essa correlação:

Nele fostes circuncidados, por uma circuncisão não feita por mão de homem, mas pelo desvestimento da vossa natureza carnal: essa é a circuncisão de Cristo. Fostes sepultados com ele no batismo, também com ele ressuscitastes, pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. (Cl 2, 11–12).


O Catecismo nos confirma que “este sinal [da circuncisão] prefigura essa 'circuncisão de Cristo' que é o Batismo” (CIC 527).

Quando Pedro pregou sob a inspiração do Espírito Santo no Dia de Pentecostes, ele dirigia-se a um público judeu e anunciou:

“Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos seus pecados; e vocês receberão o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês e seus filhos (At 2, 38–39).

Os judeus certamente ficariam surpresos se a Nova Aliança não incluísse seus filhos, ainda mais porque a promessa foi feita a eles e a própria Nova Aliança deve ser uma melhoria em relação à antiga Aliança, na qual seus filhos estavam incluídos desde o oitavo dia após seu nascimento. Por que então, na nova aliança, seus filhos deveriam ficar de fora? Quando alguém falava sobre famílias e alianças no antigo oriente médio e na tradição judaica, sempre inferia que a família incluía idosos, adultos, servos e bebês. Portanto, se a prática do Batismo Infantil fosse ilícita, certamente teria sido explicitamente proibida. No entanto, não há nenhuma legislação nesse sentido tanto no Novo Testamento quanto nos escritos dos Padres da Igreja — um silêncio que é bastante esclarecedor.

O QUE O NOVO TESTAMENTO NOS DIZ?

O Novo Testamento sugere várias vezes que tanto adultos quanto crianças participavam do rito do Batismo. Por exemplo, quando um chefe de família se convertia e era batizado, toda a sua casa também era batizada com ele:

Tendo sido batizada, ela e os de sua casa, fez-nos este pedido: “Se me considerais fiel ao Senhor, vinde hospedar-vos em minha casa” (At 16, 15).

“Ele, então, acolheu-os e, naquela mesma noite, lavou-lhes as feridas. Imediatamente, ele e todos os seus receberam o batismo (At 16, 33).

“É verdade, batizei também a família de Estéfanas; quanto ao mais, não me recordo de ter batizado algum outro de vós.” (1 Cor 1, 16).

Muitos dos Padres da Igreja interpretaram uma alusão ao Batismo Infantil na passagem de Jesus:

“Naquele tempo, traziam até ele os pequenos, para que os tocasse. Os discípulos, porém, os repreenderam. Jesus, porém, chamou-os e disse: ‘Deixem vir a mim os pequenos, e não os impeçam, pois o Reino de Deus pertence àqueles que se assemelham a eles’ ” (Lc 18, 15–16).

Na Igreja primitiva, essa passagem era interpretada como um mandamento para trazer os bebês a Cristo, de modo que pudessem ser batizados. A primeira vez que essa passagem aparece na literatura cristã (por volta do ano 200 d.C.), ela já é usada como uma referência ao Batismo Infantil (Tertuliano, De Baptismo, 18,5). Embora Tertuliano defendesse a realização do batismo em uma idade posterior para as crianças, ele atesta que o Batismo Infantil já era uma prática universal, e não tenta evitar a interpretação de que esse versículo se refira ao batismo de crianças. As Constituições Apostólicas (350 d.C.) também ensinam que as crianças devem receber o batismo com base nas palavras de Jesus: “Não as impeçam” (Livro VI, cap. 15,7).

No meio do século II, o Batismo Infantil já é mencionado como uma prática que foi instituída pelos próprios apóstolos. Em nenhum momento encontramos alguma proibição explícita, e a prática é citada em inúmeros textos dessa época. Santo Irineu (130–200 d.C.), por exemplo, fornece um testemunho bem antigo a favor do Batismo Infantil, fundamentado em João 3, 5:

“Pois Ele [Jesus] veio salvar todos por meio de Si mesmo — todos, digo eu, que por meio Dele nascem de novo para Deus: bebês, crianças, jovens e velhos” (Contra Heresias, 2, 22, 4).

Orígenes (aprox. 185–254 d.C.), que viajou pelo Império Romano, afirma com segurança:

“A Igreja recebeu dos Apóstolos a tradição [costume] de dar o Batismo também às crianças. Porque os Apóstolos, a quem foram confiados os segredos dos mistérios divinos, sabiam que há manchas inatas do pecado em cada um, que devem ser lavadas com água e Espírito” (Comentário sobre Romanos 5, 9).

Santo Agostinho (354-430d.C.), por sua vez, confirma a aceitação quase unânime da prática na Igreja primitiva:


“Isto [o batismo infantil] a Igreja sempre teve, sempre guardou; ela recebeu isso da fé de nossos antecessores; nela persevera até o fim” (Sermão 11, De Verbis Apostoli).

QUEM SE OPÕE, EM QUE SE BASEIA?

Infelizmente, contrariando os padres da Igreja e a tradição apostólica e as próprias escrituras, ao longo da história do cristianismo, alguns poucos se opuseram ao Batismo Infantil. A maior resistência veio dos herdeiros da heresia dos Anabatistas, surgida no século XVI, que foi duramente combatida por reformadores como Martinho Lutero e João Calvino — ambos defensores e praticantes do Batismo de crianças. Essa oposição se baseava, sobretudo, na crença — sem respaldo bíblico nem tradição da Igreja primitiva — de que alguém só poderia receber o batismo quando tivesse idade suficiente para exercer a fé pessoal e fazer uma confissão individual.

Concluindo, em nenhuma parte das Escrituras o ensino de que somente adultos podem ser batizados é encontrado. Recorro, então, às palavras de Santo Agostinho que questionou:

REFERÊNCIAS:
  1. RAY, Steve. Crossing the Tiber. San Francisco: Ignatius Press, 1987.

  2. FLEMINGTON, W. F.. New Testament Doctrine of Baptism. London: SPCK, 1957.

  3. JEREMIAS, Joachim. Infant Baptism in the First Four Centuries. Philadelphia: Westminster Press, 1960.

  4. GEORGE, A. (ed.). Baptism in the New Testament: A Symposium. London: Geoffrey Chapman, 1964.

  5. CULLMANN, Oscar. Baptism in the New Testament. London: SCM Press, 1956.

  6. WHATELY, Richard. Infant Baptism Considered. London: John W. Parker, 1850.

  7. AGOSTINHO, Santo. Patrística - A Graça (I) - O espírito e a letra | A natureza e a graça | A graça de Cristo e o pecado original. Vol. 12. São Paulo: Paulus, 1999. (Série Patrística).

IMAGEM DE CAPA:

Pintura cristã primitiva de um batismo de criança - Catacumba de São Calixto - entre 250 e 300d.C., Roma, Itália.
“Quem, de fato, tão ímpio, como para desejar excluir os infantes do reino dos céus, proibindo-os de serem batizados e de nascer de novo em Cristo?”