
TINHAM SIDO CURADAS... (Lc 8,1-3)
Sobre o Evangelho desta sexta-feira (20/09/2024)
Sim, algumas dessas mulheres do povo tinham sido curadas de males físicos, outras foram libertadas da opressão dos demônios, como Maria de Mágdala. E, depois de terem experimentado o amor que curava, elas já não podiam voltar a uma vida banal. Por isso mesmo, curadas e agradecidas, elas seguiam a Jesus para servi-lo com suas posses e suas atenções.
Ainda hoje, encontramos pessoas que, após uma experiência de Deus, dedicam-se de corpo e alma à construção do Reino de Deus. De modo geral, elas são malvistas, recebem críticas de fanatismo e beatice. É que o comportamento delas nos ameaça, denuncia nossa “normalidade” morna. Seu amor nos parece excessivo e injustificável. É lógico, a razão sem afeto não pode entender...
Como entender a imprevista guinada de Charles de Foucauld, que troca as noites de Paris pelo silêncio do deserto de Tamanrasset? Como entender a ruptura de Teresa, que deixa o ninho seguro do colégio de ricos para mergulhar nas sórdidas favelas de Calcutá? Como seguir o chocante exemplo do Padre Damião, que atravessa o Pacífico para abraçar os leprosos da Ilha de Molokai? E a loucura de Albert Schweitzer, o médico que deixa a Bélgica civilizada para servir aos nativos doentes do Congo?
Se buscarmos bem no fundo, encontraremos uma história de amor. Uma grande paixão. Em um dado momento de sua vida, as feridas de seu coração foram tocadas pela mão amorosa de Deus. E em lugar de cicatriz, brotou outra ferida ainda mais profunda: a sede de amar e responder amando ao amor que haviam recebido.
Seria uma pena se gastássemos toda a nossa vida com pequenos amores. Pequenos apegos. Minúsculos afetos. É que Deus nos chama a experimentar um amor profundo, uma paixão que arrebata. Mesmo sem os arroubos místicos de uma Teresa de Ávila transfixada, sem os ardores de Margarida Maria Alacoque, todos nós podemos experimentar um amor-que-move. Um amor que faz mover os pés, nos desinstala e nos põe no caminho do Outro.
Se não me engano, é por isso que Deus permite nossas enfermidades. Nelas, temos a oportunidade de conhecer Aquele que cura. Uma vez curados, brotará em nós o impulso de semear as mesmas sementes de amor que caíram em nosso coração.
Assim, quem sabe, seguiremos a Jesus...
Orai sem cessar: “Deus fere e cuida; se golpeia, sua mão cura.” (Jó 5,18)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
IMAGEM DE CAPA:
AS MULHERES NO SEPULCRO
William-Adolphe Bouguereau / França / 1876
259 x 161 cm
Óleo sobre Tela
Museu Real de Antuérpia, Antuérpia, Bélgica

