
TOME A SUA CRUZ (Mc 8,27-35)
Sobre o Evangelho desta Segunda-feira (16/09/2024)
Se existe uma virtude cristã bem fora de moda, é a virtude da humildade. O centurião romano deste Evangelho encarna com perfeição – ainda que fosse ele um pagão – a atitude de quem reconhece sua pequenez. Com a doença do servo de estimação, ele não se atreve a dirigir-se pessoalmente a Jesus, já famoso por suas curas, mas apela à mediação dos anciãos dos judeus junto ao Mestre.
No polo oposto à humildade, o orgulhoso costuma apresentar suas qualidades, sua folha de realizações, seu curriculum vitae para justificar a atenção que ele julga merecer. O orgulhoso se caracteriza pela insistência em reivindicar direitos, cobrar regalias, receber tratamento prioritário. E se não consegue o que queria, reage com a indignação de uma nobreza calcada aos pés. Deve ser por isso que iniciamos a missa com um ato penitencial...
No caso do centurião romano, o de fato de não se dirigir diretamente a Jesus já atesta a sua humildade. S. Luís de Montfort considera como falta de humildade negligenciar os mediadores que Deus nos deu devido à nossa fraqueza. E que a intimidade com o Senhor na oração seria facilitada por uma verdadeira e profunda devoção a Mãe de Deus, tão desconsiderada por certos grupos cristãos.
Claro, o centurião via um abismo entre sua vida de soldado, num país dominado, e a santidade de Jesus. A percepção desse desnível é típica da pessoa humilde. Santa Teresa de Ávila diz que “uma profunda humildade é geralmente o fruto da contemplação infusa da infinita grandeza de Deus e da nossa miséria”.
Garrigou-Lagrange comenta: “A humildade, ao diminuir-nos diante de Deus, nos eleva acima da pusilanimidade e do orgulho, e nos dispõe à contemplação das coisas divinas, à união com Deus. Humilibus Deus dat gratiam (Tg 4, 6). É aos humildes que Deus concede a sua graça, e ele os torna humildes para agraciá-los. Jesus gostava de dizer: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Somente ele, tão firmemente estabelecido na verdade, podia falar de sua humildade sem a perder”.
E se a humildade se junta à fé, forma uma dupla invencível. Também aqui o centurião chama a atenção do próprio Mestre, quando o militar deixa claro que a presença física de Jesus seria dispensável para a cura de seu servo, mas bastaria uma palavra à distância, assim como ele, um chefe, conseguia resultados com uma simples ordem.
E Jesus com admiração: “Nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé”.
Orai sem cessar: “O Senhor ampara os humildes!” (Sl 147,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
IMAGEM DE CAPA:
O Centurião Romano
Sebastiano del Piombo / Espanha/ 1516
121 x 100 cm
Óleo sobre Tela
Museu do Prado, Barrien Center, EUA

