person holding clear drinking glass

UM COPO D'ÁGUA (Mc 9,38-43.45.47-48)

Sobre o Evangelho deste Domingo (29/09/2024)

Antonio Carlos Santini

9/29/20242 min ler

A passagem de Mc 9,41 parece um corpo estranho no contexto. A Bíblia de Jerusalém chega a isolar este versículo e a lhe dar um subtítulo exclusivo: “De fato, quem vos der um copo d’água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa”.

A locução “em verdade” – tantas vezes repetida por Jesus – costuma iniciar algo muito sério, uma espécie de oráculo que não se deve desprezar. Na Vulgata de São Jerônimo, a locução é: “amen dico vobis”. E a informação tão séria que o Mestre nos passa diz respeito a recompensas, a benefícios ligados a nossas obras e nossa conduta, quando agradáveis a Deus.

Neste caso, Jesus se vale de um símbolo: o copo d’água. Ora, que coisa mínima! Qual o valor de um copo d’água? Qual a sua importância?

Nos evangelhos, muitas vezes Jesus se refere a coisas aparentemente sem importância: o iota, a menor das letras (mas não será cortada da Lei) ... um fio de cabelo (mas não cai de nossa cabeça sem que Deus o autorize) ... uma pequena palha (mas impede a visão) ... a criancinha (nem era contada nos recenseamentos) ... a minguada semente de mostarda (mas se torna um arbusto de porte) ...

Parece que Deus se importa com as coisas pequenas... Nada é tão desprezível e subavaliado que escape ao seu olhar. Um mínimo copo d’água pode ter grande valor conforme a intenção de quem o dá. Especialmente este copinho dado “por serdes de Cristo”.

Atenção, pois! A sociedade tende a valorizar os grandes feitos, as grandes conquistas, as vitórias excepcionais. O vencedor recebe os louros e a medalha de ouro. Muita gente despreza o segundo lugar. O último colocado (o “lanterna”, pois o último vagão do trem trazia uma lanterna) é alvo de troças e zombarias...

Não é assim para Deus. Creio que ele não espera grandes feitos de nossa parte, mas leva em conta o copo d’água dado com amor. A pequena esmola, a única possível. O acanhado dízimo, mas fruto de amor e compromisso. Deus continua à espera – para nos recompensar! – dos pequenos gestos de cada dia, um simples sorriso, uma ajuda, uma xícara de açúcar...

Sim, estamos viciados na contemplação de alguns santos que faziam milagres, como Santo Antônio a ressuscitar mortos, mas não levamos em conta a legião de santos “comuns”, que se santificaram segundo o modelo de Nazaré: varrendo a casa, lavando roupa e amando o Filho...

Orai sem cessar: “Senhor, não ando atrás de grandezas!” (Sl 131,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.