
UM CORTE NO CORAÇÃO (At 2, 36-42)
LEITURAS DA LITURGIAAT 2ARTIGOSPR
Bispo Robert Barron (1959-)
" Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes”. Ouvindo isto, eles sentiram o coração traspassado eperguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: “Irmãos, que devemos lazer?” Respondeu-lhes Pedro: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo1para a remissão dos vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós é a promessa, assim como para vossos filhos e para todos aqueles que estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. Com muitas outras palavras conjurava-os e exortava-os, dizendo: “Salvai-vos desta geração perversa”. Aqueles, pois, que acolheram a sua palavra, fizeram-se batizar. E acrescentaram-se a eles, naquele dia, cerca de três mil pessoas. Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dosapóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações." (At 2, 36-42)
SEMPRE AMEI OS ATOS DOS APÓSTOLOS e muitas vezes o recomendei àqueles que estão se aproximando da Bíblia pela primeira vez. Repleto de narrativas coloridas, aventura, martírio, perseguição, viagens marítimas, etc., é uma leitura estimulante. Mas eu amo Os Atos dos Apóstolos especialmente porque nos mostra a emoção de ser um seguidor de Jesus. Muito antes de existirem paróquias, dioceses, o Vaticano e outras estruturas institucionais, havia esse grupo de irmãos e irmãs que estavam tão abarcados e energizados pelo fato da Ressurreição que viajaram pelo mundo e para a morte com a mensagem de Jesus.
Ele também apresenta algumas exemplificações maravilhosas da pregação cristã, pois nos relaciona algumas das primeiras proclamações querigmáticas dos apóstolos. Se prestarmos atenção a esses discursos, podemos aprender muito - não apenas sobre a boa pregação, mas também sobre a natureza do cristianismo.
Um exemplo particularmente bom é o sermão proferido por São Pedro na manhã de Pentecostes e descrito neste segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos. Ouvimos que Pedro se levantou com os onze e levantou a voz.
Primeira lição: todo ensinamento e proclamação cristãos legítimos são apostólicos – ou seja, fundamentados no testemunho dos primeiros seguidores íntimos de Jesus... Isso é para garantir que o que os pregadores dizem não seja apenas uma questão de opinião privada ou fruto do atual consenso cultural, mas esteja enraizado na experiência daqueles que conheceram Jesus pessoalmente.
Então, como soa a pregação apostólica? Pedro diz:
"Que toda a casa de Israel saiba com certeza que Deus o fez Senhor e Messias, este Jesus a quem você crucificou".
Observe, primeiro, a força, a confiança e a coragem dessa proclamação. Não há nada fraco, vacilante ou inseguro nela. Este não é um pregador compartilhando sua dúvida com você ou se deleitando com a complexidade, a multivalência e a ambiguidade da fé. Este é um homem falando (em voz alta) sobre sua convicção absoluta. E sobre o que ele está convicto?
"Que Deus o fez Senhor e Messias, este Jesus a quem vocês crucificaram.”
Christos, o termo grego para 'Messiah" do qual derivamos a palavra Cristo, tem o sentido de "ungido", que implica ser ele o novo Davi, o que significa o cumprimento da expectativa de Israel. A boa pregação sempre coloca Jesus em relação a Israel, pois Ele só faz sentido kata ta grapha (de acordo com as Escrituras). Um Jesus abstraído da história de Israel se transforma em um mero mestre religioso ou professor de verdades espirituais atemporais.
E ele não é apenas Cristo; ele também é Kyrios (Senhor). Este termo tinha, na época de Pedro e Jesus, um sentido judaico e romano. Na leitura judaica, designava Yahweh, o Deus de Israel, pois Adonai ("Senhor" em hebraico) era o substituto típico para o tetragrama impronunciável, YHWH. Paulo, que continuamente chama Jesus de "Senhor", diz que Jesus recebeu o nome acima de todos os outros nomes, pelo qual ele quer dizer o nome de Deus. A pregação que deixa a divindade de Jesus de lado ou nas sombras não é, portanto, pregação apostólica. Agora, Kyrios também tinha um senso romano, já que César era chamado de kyrios, significando aquele a quem a lealdade final é devida. Você percebe então como foi ousado declarar que Jesus é o Senhor e, por implicação, que César não é. E por isto podemos ver porque aqueles que fizeram essa afirmação geralmente acabaram presos e/ou condenados à morte.
Um bispo anglicano do século XX expressou de forma memorável esta percepção da seguinte forma: "Quando Paulo pregou, houve tumultos; quando eu prego, eles me servem chá!”
Observe, em seguida, que Pedro não está fazendo “cócegas” nos ouvidos de seus ouvintes;
"Deus o fez Senhor e Messias, este Jesus a quem vocês crucificaram."
Ele não está tentando ganhar amigos e influenciar pessoas. Da forma mais direta e clara possível, ele nomeia o pecado de seu público. E é precisamente isto que corta "o coração" de seus ouvintes. Confie em mim, quando digo que princípios espirituais abstratos, velhos clichés e verdades morais atemporais não cortam as pessoas ao coração.
E então eles gritam:
"O que devemos fazer?"
O sermão de Pedro continua:
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para que os vossos pecados sejam perdoados. "
Todo sermão verdadeiramente evangélico deve ser um chamado ao arrependimento, para mudar a vida. Se não leva à contrição e à convicção de mudar, não cortou o coração. Lembre-se, isso não implica moralizar de uma forma intimidadora, mas sim a apresentação da mensagem de Jesus de uma maneira tão clara e convincente que as pessoas naturalmente veem como ficaram aquém dela e querem mudar.
Pedro conclui:
"Salvai-vos desta geração corrupta."
Os seguidores de Jesus são uma nação santa, um povo separado. Temos mentes e vontades renovadas; devemos traçar um perfil distinto contra o pano de fundo do mundo. Se pensarmos e agirmos como todo mundo, não absorvemos o Evangelho. Da mesma forma, se tudo o que ouvimos do púlpito é o que pode ser ouvido em programas de auditório, em grupos de discussão e em conversas políticas, não ouvimos o Evangelho.
Finalmente, somos informados de que "três mil pessoas foram acrescentadas [à Igreja naquele dia]". Eu sei que todo mundo nos diz para não nos preocuparmos com números, e de fato, há verdade nisso. Pois “Deus quer que não sejamos bem-sucedidos, mas fiéis”, como disse Madre Teresa.
No entanto, goste ou não, a Bíblia está interessada em números. E a boa pregação, se for verdadeiramente evangélica, destina-se a atrair as pessoas para a Igreja. O fato de as pessoas estarem deixando a Igreja em massa hoje diz, eu sugeriria, algo bastante negativo sobre a qualidade de nossa pregação. Se você pregar como Pedro, eles podem não lhe servir chá depois de cada homilia, mas saberão que tiveram seus corações cortados.
Excerto Traduzido de:
BARRON, Robert. How to Preach Like the Apostles. Disponível em: https://www.wordonfire.org/articles/barron/how-to-preach-like-the-apostles/. Acesso em: 22 abr. 2025.
Seleção e Tradução: Rafael Andrade Filho.
A QUEDA DA BABILÔNIA
Ciro, o Grande, derrotando o exército babilônico / 1831 / John Martin
O Zigurate ao fundo, sob um céu escuro e tempestuoso, com multidões em perigo

